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Qual é o melhor repelente infantil?

Olá! Tudo bem com vocês? Eu espero que sim!

Dessa vez, vim falar sobre os repelentes infantis e te ajudar a escolher o melhor para seu filho.

Tema que já havia comentado há 7 anos… Será que alguém se lembra? Link: https://clinicagoncalves.com/2017/11/23/nao-deixe-ele-tirar-o-sono-do-seu-filho/

Então trago novidades e curiosidades nesse momento crítico assolado pelo aumento dos casos de Dengue, no Brasil.

1) Quais as características ideais de um repelente?

Os repelentes são substâncias químicas ou orgânicas que transformam a atmosfera nociva para os insetos nos 4cm (apenas isso) ao redor da pele humana, evitando sua picada.

E deve:

  • Repelir várias espécies de insetos
  • Ser eficaz por pelo menos OITO horas
  • Atóxico
  • Ter pouco cheiro
  • Ser resistente à abrasão e à água
  • Cosmeticamente agradável
  • Economicamente viável

Portanto, ao escolher uma marca de repelente para seu filho, leve em conta tudo isso.

2) Quais e o que são os repelentes de DEET?

Os repelentes de DEET são os mais utilizados e mais “antigos”. Exemplos: OFF e Repelex.

Têm amplo espectro contra o Aedes (mosquito da Dengue), Culex, Anopheles…

Pontos de destaque: concentração!!!

Quanto maior a concentração, maior capacidade de repelir insetos.

Veja a tabela:

No entanto, não existe consenso qual seria o valor máximo de concentração para crianças…

A Academia Americana de Pediatria recomenda até 30% de concentração.

Produtos com mais de 50% não estão disponíveis no Brasil e podem aumentar a toxicidade (efeitos adversos).

Opções:

Repelentes DEET

Pontos de atenção:

  • Não são liberados para menores de 2 anos.
  • Tempo de ação curto (2-4h).
  • Concentração

3) Quais e o que são os repelentes IR3535?

Os repelentes IR3535 são biopesticidas sintéticos.

A sua eficácia é semelhante à do DEET contra o mosquito da Dengue.

Opções:

Repelentes IR3535

Pontos de atenção:

  • Liberados a partir de 6 meses de idade.
  • Os fabricantes não informam, em grande parte a sua concentração. Ideal concentrações ao redor de 20%.
  • Baixa toxicidade. Porém pode irritar olhos/pele.

4) Quais e o que são os repelentes de Icaridina (Picaridina)?

Os repelentes de Icaridina são da classe das aminas cíclicas, derivados (semelhança química) com a pimenta.

Duas vezes mais potentes que o DEET contra o mosquito da Dengue. Melhor proteção também contra mosquitos que causam a Malária e Arboviroses. Em concentrações a 20%, mais eficaz contra carrapatos.

Opções:

Repelentes de Icaridina

Pontos de atenção:

  • Existem marcas disponíveis já para maiores de 2-3 meses de idade.
  • Maior proteção contra insetos (principalmente nas concentrações a 20% ou mais).
  • A maioria apresenta tempo de ação maior que 8h (lembra do começo do texto?).

Diante de tantas vantagens, não preciso nem dizer que esses são os meus preferidos!!!


Muita coisa?!?

Bom depois disso, vou deixar aqui algumas perguntas e respostas também muito comuns sobre o tema “Repelentes”.

5) E a Citronela?

A Citronela pode ser utilizada. Mas tem um tempo de proteção curto de 20 minutos a 2h.

E também pode causar irritação de pele/olhos.

6) Comer alho ajuda a combater os mosquitos?

Não!

Estudo duplo-cego, controlado comprovou que não.

Link abaixo.

7) Repelentes ultrassônicos ajudam?

Os estudos mostram que também não.

Assim como os dispositivos elétricos luminosos com luz azul.

8) E as pulseiras com repelente?

Pulseiras embebidas com Repelentes, como o DEET, não são efetivas.

Como a repelência se dá por evaporação e há 4 cm da área aplicada, a sua proteção não é realmente efetiva.

9) Repelentes e inseticidas nas roupas?

Existem produtos à base de Permetrina e/ou Icaridina para serem aplicadas em roupas.

Bem como malhas e mosqueteiros tratados com Permetrina que garantem até 3 anos de proteção.

Essas telas são recomendadas apenas para criança com mais de 6 meses.

A Permetrina é um inseticida, e não um repelente. Então todo cuidado com ele devido ao risco de intoxicação. Seu uso respeitando as recomendações do fabricante não traz riscos à saúde.

Inclusive a associação de inseticidas às roupas e uso de repelentes se mostrou a forma mais eficaz de combate às picadas dos insetos.

Os Repelentes, mesmo que não sejam específicos para utilização nas roupas, podem ser aplicados sobre elas (NUNCA sob elas) e terão o mesmo tempo de ação. Entretanto, podem e devem ser reaplicados após a lavagem.

O DEET pode danificar tecidos de rayon, spandex além de dissolver coberturas móveis de plástico e vinil. Mas não causam os mesmos problemas em tecidos de lá, nylon ou algodão.

A Icaridina não traz esses problemas.

10) Protetor solar ou repelente? Qual aplicar primeiro?

A recomendação é aplicar o Filtro Solar, PRIMEIRO.

Aguardar 15 minutos ou até a secagem e, APÓS, aplicar o Repelente.

A Icaridina parece não apresentar esse problema.

11) Quantas vezes eu posso ou devo utilizar Repelente no meu filho?

O mais importante: siga as recomendações do fabricante.

No entanto, de uma forma geral:

  • Menores de 1 ano, apenas 1x ao dia.
  • De 1-12 anos 2x ao dia.
  • Maiores de 12 anos, 2 a 3x ao dia.

E é por isso que, quanto maior o tempo de ação, melhor seria o Repelente.

Espero que tenha ajudado em mais essa.

Como disse no começo, os casos de Dengue em 2024 estão alarmantes!!!

Vamos proteger os nossos pequenos!

Até breve.

Dr Vinícius F. Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES– Deixe a nossa família cuidar da sua.

Fontes:

1) Guia Prático de Atualização Departamento Científico de Dermatologia (Junho 2020)- Sociedade Brasileira de Pediatria- Repelentes e outras medidas protetoras contra insetos na infância. Link: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22479d-GPA_-_Repelentes_e_medidas_protet_insetos_na_inf.pdf

Como fazer lavagem nasal?

Olá, tudo bem com vocês? Eu espero que sim!

Aproveitando o lançamento do Guia Prático de Atualização da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) sobre Lavagem Nasal, no final do mês de Outubro, vim aqui falar sobre o tema e dar minha interpretação sobre ele.

Bora lá?!?

1) Para quem está indicado fazer lavagem nasal e a partir de qual idade?

A resposta é: para TODOS!!!

Desde bebês até os vovôs.

E indicado, principalmente, para:

  • Rinossinusites virais (resfriados)
  • Rinites alérgicas agudas e crônicas
  • Sangramento nasal (Epistaxe)
  • Pós-operatório (desvio de septo, retirada de cornetos nasais, cistos…)

2) E como prevenção?

Na realidade, não existe ainda algum estudo que endosse a lavagem como mecanismo de prevenção contra sintomas/ queixas nasais

Entretanto também, nenhum se mostrou contrário ou deletério.

Valendo a velha máxima: “Você deve lavar o nariz todos os dias, assim como escova os dentes”.

3) Existem contra-indicações?

Sim.

Na presença de corpos estranhos, defeitos de base de crânio ou trauma nessa região e quando há chance aumentada de aspiração.

4) Existem tipos de soros diferentes? E apresentações diferentes?

Sim.

Pensando em Pediatria, deveríamos fazer a lavagem SEMPRE com Soro Fisiológico 0,9%. Evitando soluções mais concentradas como as de 2-3%, que podem causar mais desconforto e ardência.

O Soro Fisiológico 0,9% pode ser comprado em ampolas, frascos ou dispositivos como os demonstrados abaixo:

Inclusive, você pode fabricar o seu próprio soro fisiológico, sabia?!?

Como faz???

Vou explicar: Dilua 9g de Cloreto de Sódio (sal de cozinha) em 1 Litro de água filtrada e fervida. E pronto!

Para melhorar o pH da solução, pode ser acrescentada uma colher de café de Bicarbonato de Sódio (cerca de 1,59g) a cada 250 ml de soro caseiro.

Independentemente, se caseiras ou industrializadas, as soluções podem e devem ser mantidas refrigeradas.

Maaaas,

IMPORTANTE: a lavagem sempre deve ser feita com o soro à temperatura ambiente (25C) ou aquecido- pode ser aquecido em microondas- e NUNCA gelado!

5) Qual a melhor forma de realizar a lavagem nasal?

Independentemente do dispositivo, sempre:

  • Aponte-o para a LATERAL do nariz. NUNCA para o septo.
  • Aplique de forma contínua e suave. Não faça em “soquinhos” ou de uma forma brusca (alta pressão).
  • Posicione bem a ponta do dispositivo com a narina
  • Forme um ângulo de 45 graus em relação ao palato.

Aponte sempre para a Lateral do Nariz

Faça um ângulo de 45 grau com o palato (céu da boca)

6) Existem volumes e/ou tipos específicos de apresentações para cada idade?

Sim!!!

E essa foi a parte mais inovadora dessa Recomendação da SBP! Até então, não tínhamos nenhum Guia para uma recomendação formal.

E agora temos!

Bora conferir?

  • Menores de 6 meses

  • De 6 meses a 2 anos

  • Maiores de 2 anos

7) Dicas de Ouro!!!

Aqui vão algumas dicas que eu separei para vocês e que podem ajudar no processo todo:

  • Pratique a lavagem nasal no seu filho desde pequeno (bebê) e mesmo se ele não estiver doente. Será muito mais fácil realizá-la futuramente, em um quadro de resfriado ou alergia.
  • NUNCA faça com seu filho deitado (no reto)! Fator de risco para engasgos e otites!!!
  • Em crianças pequenas, faça sempre com uma inclinação de 30 graus ou sentado.
  • Em crianças maiores, sentado ou em pé com uma inclinação para frente.
  • Peça para seu filho, se for maior, gritar: “Ahhhhh”durante a lavagem. Isso impede com que o soro caia lá atrás, no fundo da boca, e provoque engasgo.


Eu acho que é isso

Por hoje é só!

Dúvidas ou sugestões? É só deixá-las abaixo.

Aguardo vocês numa próxima postagem.

Até lá!!!

Dr Vinícius F. Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES– Deixe a nossa família cuidar da sua.

Fontes:

1) Guia Prático de Atualização- Lavagem Nasal- Sociedade Brasileira de Pediatria. 30 de Outubro de 2023. Link: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/24053f-GPA_ISBN_-_Lavagem_Nasal.pdf

2) Imagem Corneto nasal: https://www.clinicamarcondes.com.br/post/corneto-nasal-o-que-é-e-para-que-serve

3) Imagem Rinofaringe: https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/faringe.htm

A nova vacina de Pneumococo

Olá! Tudo bem com vocês? Eu espero que sim.

Hoje vim falar sobre a nova vacina Pneumo 15-valente (Pneumo 15V) e sobre suas irmãs Pneumo 10V e Pneumo 13V.

Mas antes de começar a falar sobre vacinas, vou falar sobre o Pneumococo, agente que essas vacinas previnem.

Bora lá?

1) O que é Pneumococo?

O pneumococo é uma bactéria. Seu nome científico é Streptococcus pneumoniae.

Existem mais de 90 tipos de Pneumococo, no entanto, alguns deles são os mais relevantes para causar doença invasiva em crianças.

2) Que doenças ele pode causar?

O Pneumococo é um dos principais agentes que causa otites, sinusites, bacteremia, sepse e meningites nas crianças.

3) Quais são os fatores de risco para infecção pelo Pneumococo?

Ele é transmitido por gotículas, geralmente, ou por contato direto por superfícies contaminadas.

Dentre os fatores de risco, destaco:

– Desmame precoce (antes dos 6 meses)

– Tabagismo passivo

– Frequentar escola ou creche (menores de 2 anos principalmente) e/ou bebês que tenham irmãos que frequentam escola/creche.

4) Ele é um agente resistente a antibióticos?

Depende!

O PRINCIPAL:

“Uso recorrente de antibióticos (por isso a importância de utilizar apenas com indicação correta e pelo tempo correto)”.

Geralmente, o Pneumococo é sensível a grande parte dos antibióticos como Penicilinas (Amoxicilina).

Alternativamente, para pessoas alérgicas, pode ser utilizado macrolídeos (Claritromicina, Azitromicina ou Eritromicina).

No entanto, para crianças com infecções recorrentes e uso de Penicilinas em menos de 30 dias e/ou que não utilizaram o antibiótico pelo tempo correto pode haver a seleção de bactérias resistentes ou parcialmente resistentes.

Nesses casos, há indicação de doses mais altas da classe de Penicilinas ou grupos de antibióticos mais potentes.

5) Pneumo 10v: quem fornece, qual a proteção, quantas doses meu filho deve receber?

A Pneumo 10V é fornecida pelo SUS gratuitamente.

Ela confere uma proteção de cerca de 70% contra doenças invasivas graves pelo Pneumococo.

Geralmente ela é feita com: 4 meses e 6 meses. Reforço após 1 ano de idade.

6) Pneumo 13v: quem fornece, qual a proteção e quantas doses meu filho deve receber?

A Pneumo 13V costuma ser encontrada em clínicas privadas, eventualmente, em UBSs.

Ela confere uma proteção de cerca de 90% contra doenças invasivas graves pelo Pneumococo.

MUITO IMPORTANTE: ELA CONFERE PROTEÇÃO CONTRA OS TIPOS 3 e 19A do Pneumoco. Que são os principais tipos que causam doenças invasivas graves no Brasil e no Mundo!”

* Posologia:

Nas crianças com menos de 6 meses:

3 doses: 2-4-6 meses

Após 1 ano (12-15 meses): 1 dose de reforço.

Nas crianças de 7 meses a 1 ano:

2 doses: com intervalo de 2 meses

Apos 1 ano (12-15 meses): 1 dose de reforço.

Nas crianças entre 1-2 anos:

2 doses com intervalo de 2 meses

Criancas entre 2-5 anos:

Apenas uma dose

MUITO IMPORTANTE: ELA CONFERE PROTEÇÃO CONTRA O TIPO 3 e 19A do Pneumoco. Que são os principais tipos que causam doenças invasivas graves no Brasil e no Mundo!”

7) A nova vacina Pneumo 15V: quem fornece, qual a proteção e quantas doses meu filho deve receber?

Fornecida por clínicas privadas.

Ela confere 1% a mais de proteção do que a Pneumo 13v.

E principalmente: continua protegendo contra os tipos 3 e 19A de Pneumoco.

Seu esquema posológico (doses) é o mesmo da Pneumo 13V acima.

8) Posso intercambiar, ou seja, mudar de uma vacina para outra? Pode-se contabilizar as doses anteriores já administradas?

Se o esquema vacinal foi iniciado com Pneumo 10V a resposta é sim!

Deve-se desconsiderar as doses anteriores e iniciar o esquema com Pneumo 13V ou Pneumo 15 “do zero”. Como se nenhuma vacina tivesse sido feita.

Entretanto, se foi iniciado o esquema vacinal com Pneumo 13V pode-se intercambiar para a vacina Pneumo 15V sem problemas.

PERGUNTA BÔNUS:

* Ouvi falar sobre a vacina Pneumo 23V. O que se sabe sobre ela?

A Pneumo 23V é uma vacina que não fornece imunidade duradoura.

Ela é indicada para pessoas com imunodeficiência e problemas respiratórios crônicos.

Encontrada no SUS nos CRIES (Centros de Referência) e em clínicas particulares.

Ela pode ser ofertada para crianças com mais de 2 anos e adultos com mais de 60 anos.

Uma segunda dose dela pode ser feita 5 anos após a primeira.

E por hoje é só!

Dúvidas ou sugestões?

Só deixar abaixo.

Até mais.

Dr Vinícius F. Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixe a nossa família cuidar da sua

Fontes:

1) Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)- Outubro 2023- https://familia.sbim.org.br/vacinas/vacinas-disponiveis/vacinas-pneumococicas-conjugadas

A Nova Vacina da Dengue

Olá! Como estão vocês? Eu espero que bem!

Hoje, venho aqui para falar da Nova Vacina da Dengue, a QDENGA.

Ouviram falar dela nos noticiários?

Pois bem, caso não conheçam, trago aqui os highlights no nosso jogo de perguntas e respostas.

Maaaas…

Antes de começar, como o verão está aí e junto com ele os mosquitos e as suas picadas, deixo a seguir o link sobre Repelentes (sim, precisa de atualização que deve sair em breve…):

https://clinicagoncalves.com/2017/11/23/nao-deixe-ele-tirar-o-sono-do-seu-filho/

Agora sim! Bora lá?

1) Já não existia uma Vacina de Dengue?

Sim. Antes da QDENGA (Laboratório Takeda) já havia a vacina Dengvaxia (Laboratório Sanofi).

2) Então qual a diferença entre elas?

A vacina anterior, Dengvaxia, é recomendada para pessoas de 6 anos até no máximo 45 anos de idade que JÁ TIVERAM infecção prévia confirmada laboratorialmente pela Dengue. no esquema de 3 doses (0,6 e 12 meses).

Já, a nova vacina recentemente aprovada pela ANVISA, a QDENGA, pode ser realizada em pessoas de 4 a 60 anos de idade INDEPENDENTEMENTE de infecção prévia. No esquema de apenas 2 doses (0 e 3 meses).

3) Quem não pode receber a vacina?

Ambas são contra-indicadas para:

– Gestantes

– Mulheres que amamentam

– Imucomprometidos

– Pacientes em uso de corticoides em doses altas ou imunossupressores

Além é claro da ressalva da idade e status sorológico citados antes.

4) A nova vacina é segura?

Sim. A QDENGA foi testada em mais de 28.000 crianças e adultos de 1,5 a 60 anos de 13 países do mundo, incluindo o Brasil.

Ela é uma vacina de vírus vivos atenuados, baseada no sorotipo 2 da Dengue e com três vírus quiméricos (“modificados”) contendo os genes das proteínas dos sorotipos 1,3 e 4 da Dengue.

Portanto, ela previne a doença causada pelos quatro tipos de Dengue, sem a incidência de eventos adversos graves, até o momento.

5) Quem teve Dengue atualmente pode tomar a vacina?

Recomenda-se um intervalo de 6 meses após a infecção pelo vírus da Dengue para a aplicação da nova vacina, QDENGA.

6) Se eu tomei uma dose da vacina anterior, Dengvaxia, eu posso continuar o esquema com a nova vacina, QDENGA?

Não há dados de intercambialidade entre as vacinas.

Portanto, não.

Deve-se iniciar o esquema do zero, desconsiderando as doses da vacina anterior.

7) A recomendação é dar essa vacina para as crianças?

Sim!

A SBP, Sociedade Brasileira de Pediatria, recomenda a vacinação de TODAS as crianças com mais de 4 anos de idade, independentemente da infecção prévia pela Dengue documentada.

Pelo menor número de doses (apenas 2) e menor intervalo de tempo (3 meses), a sugestão é que seja realizada preferencialmente a nova vacina, A QDENGA.

Deixo nas fontes o texto integral.

Acho que por hoje é só!

Vamos manter em dia as vacinas dos pequenos.

Nos vemos em breve.

Até lá!!!

Dr. Vinícius F. Z. Gonçalves– Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixe a nossa família cuidar da sua

Fontes:

1) Nova Vacina Dengue: Recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria- Documento Científico de Imunizações. No. 89, 11 Agosto de 2023. Link: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/24154d-DC_-_Nova_Vacina_Dengue-Recomendacoes_SBP.pdf

Como tratar conjuntivite?

Olá! Tudo bem com vocês? Eu espero que sim!

Hoje vou falar sobre as conjuntivites nas crianças.

Como diagnosticar? Como tratar? Precisa afastar da escola em todos os casos?

Mas antes de começarmos, é importante conceituar o que é conjuntivite.

1) O que é conjuntivite?

Tudo o que termina com o sufixo “ite”, em medicina, significa inflamação.

A Conjuntiva é uma membrana transparente que fica sobre a esclera, a parte branca do olho, e a sua função é a de proteger os olhos de agentes externos.

Imagem 1- Conjuntiva

Logo, a conjuntivite é a inflamação de uma parte do olho.

Reitero: inflamação.

Não obrigatoriamente infecção.

2) Quais as causas de conjuntivites?

As conjuntivites podem ser causadas por agentes infecciosos, como vírus, fungos e bactérias, corpos estranhos, alérgenos e agentes irritantes.

3) Todo olho vermelho é conjuntivite?

A resposta é não.

No entanto, toda conjuntivite costuma cursar com o olho vermelho.

4) Quais são os sintomas?

As conjuntivites, independentemente da causa, geram:

  • Olhos vermelhos
  • Prurido (coceira)
  • Sensação de areia nos olhos
  • Fotofobia (incômodo com a luz)
  • Lacrimejamento
  • Secreção nos olhos

5) Como diferenciar uma conjuntivite viral de uma bacteriana?

Essa, de fato, não é uma tarefa fácil…

Entretanto, a história clínica ajuda e MUITO!

  • Conjuntivite Viral

É comum haver uma história de resfriado associado ao quadro ou de pessoas próximas resfriadas.

Portanto, febre por 2 a 3 dias, coriza hialina (clara) e tosse são sintomas comuns.

Falando especificamente sobre a conjuntivite:

– Pode acometer um olho, apenas. Mas geralmente acomete ambos os olhos em 48h.

– A secreção é mais mucosa (aquosa).

– Presença de linfonodos pré-auriculares (ínguas).

Imagem 2- Linfonodos pré-auriculares (à frente da orelha)

  • Conjuntivite bacteriana

Começa de forma aguda, sem história prévia de resfriado.

A irritação e a vermelhidão são importantes. Mas também:

– Acomete, normalmente, apenas um dos olhos. Pode haver o acometimento de ambos os olhos através do ato de coçar.

– A secreção é abundante. Mais espessa. Podendo ser amarelada ou esverdeada.

– Geralmente, sem linfonodos (ínguas) aumentados durante o quadro.

6) Qual o tratamento?

Seja qual for a causa, realizar higienize com soro fisiológico 0,9% e aplicar compressas com água fria sobre os olhos já pode ajudar bastante e até ser o suficiente para o tratamento de uma conjuntivite.

No caso de conjuntivite viral, não há um tratamento específico. O uso de colírios de lubrificação pode auxiliar na resolução dos sintomas.

Já num caso de conjuntivite bacteriana, pode ser necessário o uso de colírios com antibióticos. Eventualmente, antibiótico sistêmico (por boca).

7) É necessário o afastamento escolar?

Sim!

Em se tratando de um quadro de conjuntivite infecciosa (viral ou bacteriana) é necessário o afastamento escolar.

A transmissão se dá pelo contato direto com as secreções ou compartilhamento de objetos.

Geralmente em 7-10 dias já costuma haver melhora dos sintomas.

*** FAIXA BÔNUS ***

a conjuntivite infecciosa é rara em bebês

É bastante comum, na primeira ou nas primeiras consultas de um recém-nascido, eu receber a seguinte queixa:

“Meu filho acorda com os olhos com muita secreção, quase grudados. Será que ele está com conjuntivite?”

Imagem 3- Secreção abundante SEM olho vermelho

E, na grande maioria das vezes, a resposta é não.

Tirando a possibilidade de conjuntivite química causada pelo colírio de Nitrato de Prata aplicado na maternidade e que, costuma haver resolução espontânea em 48h, e das conjuntivites neonatais provocadas por agentes infecciosos que podem estar presentes no canal de parto, como N. gonorrhoeae (gonorreia) e C. trachomatis (clamidíase), a conjuntivite infecciosa é bastante rara em bebês.

O que pode estar acontecendo então?

Possivelmente, um dos principais motivos de secreção abundante nos olhos dos recém-nascidos advém da obstrução do ducto nasolacrimal.

Imagem 4- Obstrução de ducto nasolacrimal

O ducto nasolacrimal é uma estrutura que liga os olhos ao nariz e que auxilia na drenagem das lágrimas.

Devido ao seu tamanho diminuto em bebês, não é incomum que haja obstrução.

Nesses casos, pode haver o acúmulo de secreções no canto dos olhos, principalmente, pela manhã. A vermelhidão não é tão comum, entretanto.

Realizar higiene com soro, compressas com água fria e, principalmente, a massagem de Crigler costuma ser suficiente para a resolução do problema.

Imagem 5- Massagem de Crigler

Bem, por hoje é só!

Espero ter elucidado mais essa.

Nos vemos em breve em mais uma publicação.

Espero vocês.

Até lá!

Dr. Vinícius F. Z. Gonçalves– Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixe a nossa família cuidar da sua

Fontes:

1) Nem todo olho vermelho é conjuntivite- Sociedade Paulista de Pediatria- Atualização de Condutas em Pediatria- Maio 2018.

2) Profilaxia da Oftalmia Neonatal por Transmissão Vertical- Sociedade Brasileira de Pediatria- Documento Científico- Dezembro de 2020.

Imagens:

Imagem 1- https://www.allaboutvision.com/pt-br/anatomia-ocular/conjuntiva/

Imagem 2- https://www.passeidireto.com/arquivo/59864626/linfonodos

Imagem 3- https://eyekids.med.br/obstrucao-congenita-das-vias-lacrimais-2/

Imagem 4- https://www.saudeocular.com.br/vias-lacrimais/

Imagem 5- https://www.nationwidechildrens.org/family-resources-education/health-wellness-and-safety-resources/helping-hands/eye-tear-duct-massage

Febre Maculosa em Crianças

Olá! Tudo bem com vocês? Eu espero que sim!

Após os casos de Febre Maculosa na última semana no Estado de São Paulo e, principalmente, após o óbito de uma adolescente, o sinal de alerta foi ligado.

Vim aqui hoje, então, falar para vocês sobre a Febre Maculosa focada na Pediatria.

Tudo aquilo que vocês querem saber, no nosso antigo e conhecido jogo de perguntas e respostas. Bora lá?

1) O que é a Febre Maculosa?

A Febre Maculosa Brasileira é uma doença infecciosa e febril causada pela picada de carrapatos contaminados por uma bactéria: a Rickettsia rickettsii.

O nome Maculosa advém dos manchas que a doença pode provocar no corpo das pessoas acometidas por ela.

2) Ela só existe no Brasil?

Não. Ela também foi documentada em outros países, como os EUA, sendo denominada de Febre das Montanhas Rochosas.

Inclusive, existem outras espécies de Rickettsias que também podem causar Febre Maculosa menos grave.

3) Qual tipo de carrapato que pode transmitir a doença?

O principal agente transmissor é o carrapato estrela, do gênero Amblyomma.

Entretanto, qualquer carrapato que carregue a bactéria potencialmente pode transmitir a doença, como o carrapato comum de cães e gatos.

4) Então os culpados pela doença são os animais?

Não!

Você ou seu filho só podem adquirir a doença ao serem picados pelo carrapato contaminado pela bactéria.

Os animais são apenas hospedeiros intermediários e não transmissores.

Portanto, vocês não precisam necessariamente ter tido contato com algum animal infestado pelos aracnídeos (sim, carrapatos são aracnídeos e não insetos 😉).

Inclusive, como mostram as fotos e o diagrama acima, vocês podem contrair a doença ao entrar em áreas de matas, pastos, florestas ou cachoeiras que apresentem infestação pelos carrapatos contaminados.

Importante pontuar também que a Febre Maculosa não é transmissível de pessoa a pessoa.

5) Estão sendo notificados casos nesse momento e no interior de São Paulo. Há algum motivo específico para isso?

Sim.

Existe no Brasil uma maior incidência no Sudeste, principalmente no interior de São Paulo e no norte do Paraná.

Além disso, a forma jovem do carrapato costuma a ser mais presente nesta época do ano, entre Junho a Novembro, o que justifica o aumento da incidência da doença nesses meses.

6) Quais são os sintomas da Febre Maculosa?

Aí que está o “X” da questão!

Inicialmente ela pode gerar sintomas inespecíficos como:

  • Febre
  • Dor de cabeça intensa.
  • Náuseas e vômitos.
  • Diarreia e dor abdominal.

Os quais podem ser confundidos com qualquer doença infeciosa. Como gastroenterites (viroses).

Mas também:

  • Dor muscular constante.
  • Dor de articulações.
  • Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés.

Que também podem ser confundidas com outras doenças como Dengue, Sarampo ou Rubéola, que também causam manchas no corpo.

Pensando nas crianças, Mão-Pé-Boca e até a Roséola podem entrar nos diagnósticos diferenciais.

Mas ela pode ser ainda mais grave e gerar:

  • Gangrena nos dedos e orelhas.
  • Sangramentos, petéquias e equimoses (hematomas)
  • Paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões causando parada respiratória.

Podendo ser facilmente confundida com Meningites ou Encefalites.

Portanto, mesmo num estágio mais avançado da doença podem haver dúvidas quanto ao seu diagnóstico.

7) Então, como fazer o diagnóstico?

Inicialmente, com a história clínica.

História de passeio ou viagem à alguma área endêmica.

Segundo, evolução da doença.

A Febre Maculosa inicialmente começa com febre e sintomas inespecíficos. Ao decorrer dos primeiros dias da doença (do segundo ao décimo quinto), podem surgir manchas no corpo que vão dos braços e pernas, para as palmas de mãos e solas de pés. Geralmente não coçam.

Posteriormente, pode haver evolução para petéquias (pintinhas vermelhas), equimoses (manchas vermelhas) e hemorragias.

O hemograma não costuma ser específico. Mas pode haver anemia e queda de plaquetas.

O exame padrão-ouro é a Imunofluorescência Indireta. Mas o PCR pode ser colhido até o 5 dia da doença e as sorologias após 7 dias e confirmadas de 14-21 dias.

O mais importante: havendo suspeita de Febre Maculosa, o tratamento deve ser iniciado prontamente. Pois a letalidade da doença é bastante alta.

Confira o gráfico abaixo:

8) Qual é o tratamento?

O tratamento deve ser feito com antibióticos, geralmente Doxiciclina ou Cloranfenicol.

Muitas vezes há a necessidade de internação do paciente.

Quanto mais precoce o tratamento, maior a chance de sobrevivência.

9) E dá para prevenir?

Sim. Com toda certeza!

  • Sempre utilize calça, botas, roupas de manga comprida ao visitar áreas de mata fechada
  • Preferencialmente, utilize roupas claras. Isto ajuda a identificar carrapatos, que são escuros
  • Utilize repelentes! DEET, Icaridina ou IR3535. Tem dúvida qual escolher? Confira essa publicação sobre repelentes que fiz: https://clinicagoncalves.com/tag/repelente/
  • Sempre que voltar de uma viagem ao campo faça busca ativa de carrapatos na pele do seu filho
  • Remova-os prontamente (idealmente antes de 4-6h). Quanto antes for feita a remoção, menores são as chances de transmissão de doenças
  • Utilize sempre uma pinça para remover todo o carrapato. Não o aperte ou o esprema, pois isto confere uma maior chance de transmissão de doenças
  • Lave a região com água e sabão logo após a retirada do carrapato
  • Retire toda a roupa e lave em água quente

Acho que por hoje é só!

Casos como esses que vêm sendo noticiados nos servem de alerta.

Sou super fã e entusiasta da vida ao ar livre e com menos tela. Tenho inclusive até um receio dos pais ficarem com medo ou restringirem as atividades no campo após essas notícias.

Reitero que esses casos nos servem de alerta para nos cuidarmos, cuidarmos dos nossos amigos de quatro patas e dos nossos pequenos, apenas!

Continuem brincando, rastejando, engatinhando e, de preferência, de pé no chão.

Volto em breve com mais um tema.

Espero vocês. Até lá!

Dr. Vinícius F. Z. Gonçalves– Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixe a nossa família cuidar da sua

Fontes:

1- Ministério da Saúde. Febre Maculosa. Site: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/f/febre-maculosa e https://bvsms.saude.gov.br/febre-maculosa-brasileira/

2- Ministério da Agricultura, Pecuária e Abstecimento- Comunicado Técnico 132- Brasília, DF 2015. Site: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/134963/1/COT132-Final.pdf

3- Ministério da Saúde- Situação Epidemiológica de Febre Maculosa 2007-2022. Site: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/f/febre-maculosa/situacao-epidemiologica/situacao-epidemiologica-da-febre-maculosa-brasil-2007-2022/@@download/file

4- Sociedade Mineira de Pediatria- Febre Maculosa: atualizações 19/01/2017. Site: http://blog.smp.org.br/febre-maculosa-atualizacao/

Assistir TV faz mal para o bebê?

Olá! Tudo bem com vocês? Eu espero que sim!

E aí? Será que faz mal para o bebê assistir TV, usar tablets ou smartphones?

A resposta é SIM!

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda ZERO horas de tela para crianças com menos de 2 anos.

O excesso de telas pode predispor a alterações de sono, a problemas visuais e à obesidade.

Falei sobre isso numa postagem anterior.

Confira aqui: https://clinicagoncalves.com/2020/03/01/obesidade-infantil-a-epidemia-parte-2/

Além disso, pode causar distúrbios de atenção e irritabilidade, a chamada Síndrome Visual do Computador.

Por acaso, você não percebeu que algo mudou nas crianças pós-pandemia?

Pois é, as telas podem ser a chave de muitas respostas.

Mas hoje vamos nos ater aos problemas visuais. E os principais são:

1) Efeitos na acomodação

A acomodação é o efeito que os músculos dos olhos (ciliares) fazem no cristalino para que consigamos focar um objeto, principalmente de perto.

Após 2 horas de telas, já pode haver o comprometimento de 20% da acomodação visual.

E isso pode causar visão embaçada, dor de cabeça, olhos vermelhos e até mesmo problemas de convergência (estrabismo).

2) Efeitos na Superfície Ocular

Crianças que ficam nas telas piscam menos e de forma menos efetiva.

Ao piscar, distribuímos o filme lacrimal de forma uniforme.

A exposição prolongada a telas pode provocar queimação nos olhos, sensação de areia, vermelhidão e secura.

Sabe aquela criança que não para de piscar e que parece ter um tique? Pois bem, isso pode ser um efeito resposta para a tentativa de melhorar a hidratação.

Por bem, apenas com um mês de redução do uso de telas já vemos uma melhora nesses sintomas.

3) Efeitos na motilidade ocular

Temos visto um aumento no número de crianças que apresentavam a visão normal e desenvolveram estrabismo, nos últimos anos.

Em alguns desses casos, os pais referem que as crianças muitas vezes fechavam um dos olhos para melhorar a visão, que se apresentava dupla, principalmente ao longe.

O abuso das telas pode “forçar” os músculos retos mediais dos olhos e ser um fator de risco para o estrabismo adquirido (“olho vesgo”).

Ficar em frente aos smartphones por mais de 5 horas por dia demonstrou ser um fator de risco elevado para a condição.

4) Incidência e progressão da Miopia

Tem se notado um aumento no números de Míopes no mundo.

Estima-se que até 2050, metade das pessoas do mundo serão Míopes.

E credita-se a essa tendência ao aumento do uso de telas e ao menor tempo gasto ao ar livre.

Após a COVID, um estudo notou um aumento de quase 3x na incidência de Miopia em crianças de 6-8 anos.

Na Ásia, 90% dos adolescentes e adultos são míopes.

Estima-se que até 2050, 50% das pessoas do mundo serão Míopes.


MEU DEUS!!!!

Então o que fazer?!?

1) Primeiro e óbvio

Reduzir o tempo de tela e expor os pequenos ao ar livre.

Expor as crianças de 11-14h semanais ao ar livre e à luz solar mostrou ser um fator de proteção para o desenvolvimento de miopia.

2) Distância

Uma distância de um braço da tela e a um ângulo abaixo do rosto seriam as ideais.

Ajuste o brilho e o contraste.

Evite a utilização da tela ao ar livre ou em ambientes muito iluminados e com reflexo.

3) Piscar

Conhecem a regra 20-20-20?

Simples (não tanto…).

A cada 20 minutos de tela, PARE!

Olhe para um objeto a 20 pés de distância (6 metros).

Por 20 segundos e PISQUE. Aproveite e relaxe o braço e os ombros.

Isso pode ajudar a lubrificação dos olhos.

O mesmo efeito pode ser efeito ao olhar para mais longe, em ambientes com luz natural e em intervalos maiores.

Para pessoas (adultos) que trabalham com telas, o uso de colírios lubrificantes também podem ajudar.


Como disse acima o mais importante seria limitar a tela, por mais difícil que isso possa parecer.

Incluir atividades ao ar livre, aproximará você e os seus filhos.

Além de ser um ótimo incentivo para a prática de exercícios e atividades físicas!

Termino o texto e deixo vocês com esse triste dado:

Vamos mudar isso!!! 😉

Nos vemos na próxima postagem.

Espero vocês lá!

Dr. Vinícius F. Z. Gonçalves– Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixe a nossa família cuidar da sua

Fontes:

– Documento Científico: Grupo de Trabalho Oftalmologia Pediátrica (gestão 2022-2024)
No 67, 12 de Maio de 2023. Sociedade Brasileira de Pediatria.

Aberta a temporada dos Resfriados

Olá! Tudo bem com vocês? Espero que sim!

E que estejam sobrevivendo ao começo do Outono também…

Sim, está aberta a temporada dos Resfriados!

São as águas de Março fechando o verão, já diriam Tom e Elis… E o clima seco, sem chuvas e frio é EXCELENTE e propício para o surgimento de doenças respiratórias. Além do que, é justamente agora aqui no Sudeste, que ocorre o maior pico (sazonalidade) da circulação de vírus causadores de resfriados.

Há alguns anos, já falei sobre a Bronquiolite aqui na página.

Deixo o link a seguir e o convite para que leia antes de prosseguir: https://clinicagoncalves.com/2018/02/15/416/

Mas então, hoje sugiro ir além, e fazermos o famoso bate-bola, nosso jogo de perguntas e respostas sobre os Resfriados- também conhecidos como IVAS (infecção de via aérea superior)-, Bronquiolite, Gripe e afins. Bora lá?

1) Existe algum jeito do meu filho não pegar resfriado?

A resposta é SIM e também NÃO.

Como assim?

Bom, vimos que o isolamento social nos anos pandêmicos trouxe uma certa calmaria para as crianças, e porque não dizer, para os pais no quesito Resfriados e infecções respiratórias em geral.

Portanto, obviamente que “isolar” crianças pequenas principalmente é um fator de proteção.

Ter cuidado com a lavagem de mãos, utilizar álcool em gel, evitar aglomerações (principalmente, quando falamos em menores de 3 meses de idade), evitar o tabagismo passivo, evitar que pessoas doentes (resfriadas) tenham contato com uma criança pequena PODEM sim e com toda certeza prevenir uma infecção!

No entanto, evitar que crianças maiores vão à escola não parece uma escolha muita sábia.

Vimos ao vivo o efeito do isolamento social de crianças de 2-3 anos, que agora com seus 4-5 anos continuam apresentando vários quadros de resfriados.

O sistema imune necessita ser exercitado. Você só tem imunidade se tiver contato com vírus e bactérias ao longo da sua vida.

E por mais difícil que isso seja, num primeiro momento, é uma fase temporária até a criação de células de defesa.

O sistema imune naive (literalmente “virgem” traduzido do inglês), precisa do contato com agentes infecciosos para se especializar.

É por isso que populações carcerárias e povos indígenas são grupos prioritários em toda campanha de vacinação.

Colocar seu filho numa bolha- acho que fui claro quando disse numa idade mais avançada- só irá postergar uma situação que ele viverá assim que entrar na escola.

Isso sem contar toda a perda de contato social e educativa que a falta da escola traz.

Novamente, vemos na nossa geração de crianças pós-pandemia um aumento da incidência de atraso de fala, de problemas de relações sociais, do abuso de tela e por aí vai…

2) Não faço lavagem nasal. Tem problema?

Novamente, sim e não.

Como disse, o clima frio, seco e com vários vírus circulando é um prato cheio para infecções.

A lavagem nasal deveria ser feita desde bebê, como uma medida de higiene comum. E não apenas quando a criança, e porque não nós mesmos, estamos doentes.

Se você acostumar seu filho desde pequeno, ele não se incomodará em fazer e intensificar a lavagem nasal quando estiver doente.

Ainda mais, se ele o vir também fazer, vai entender que a lavagem é algo natural, como escovar os dentes.

Então, o problema de não fazer lavagem, infelizmente será apenas seu, num primeiro momento e, em seguida, do seu filho também.

Mas….

PAUSA

Não é necessário e nem recomendado fazer da lavagem uma torneira.

Lavagem com seringa com grandes volumes e pressões ou com dispositivos de alto fluxo, principalmente em crianças pequenas, é um fator de risco para otites!

Então, muito cuidado com os vídeos de internet. 😉

Para finalizar, esse é e será o primeiro e crucial tratamento para qualquer doença respiratória. Alérgica ou infecciosa!

Pode perguntar para o seu otorrino, alergologista ou pediatra.

3) E inalação precisa? Só consigo fazer com meu filho dormindo e de chupeta, tem problema?

Acho que tudo o que disse acima, pode ser copiado aqui para baixo.

O soro fisiológico ajuda a retirar as secreções. Então, SIM! A inalação ajuda a remover aquela secreção parada nas seios da face, via aérea e pulmões.

Quando você realiza com a criança com a boca fechada ou com chupeta, obviamente que ocorre redução da efetividade.

Mas o que sempre digo, melhor realizar do que não realizar…

E, ainda mais, o melhor é aquilo que você consegue fazer! Se culpe menos!

4) Tenho a impressão que quando meu filho faz inalação ele tosse mais. Será que a inalação não está fazendo mal?

Não, não e NÃO!!!

A inalação é uma forma de ajudar na expectoração (lembra daqueles comerciais de xarope???). Então é justamente isso que o corpo está fazendo.

A tosse é um mecanismo de defesa do corpo. Quando tossimos estamos eliminando secreções e agentes infecciosos.

5) Mas não tem um xarope que faz o mesmo efeito, ou melhor, que corta a tosse?

A grande maioria dos xaropes são expectorantes e mucolíticos, ou sejam, fazem a secreção ficar mais fluida e você tossir.

Entenda, o grande mal, na verdade, é você ou seu filho não tossir e a partir daí ocorrer alguma complicação de um Resfriado como uma Otite Média, Sinusite Bacteriana ou Pneumonia.

Quem já teve o desprazer de ter um filho internado deve ter presenciado a prescrição de MUITA lavagem nasal, inalação e fisioterapia respiratória para a remoção do muco.

Os xaropes, na sua grande maioria, são destinados para crianças maiores de 2 anos (mesmo os caseiros muitas vezes por conter açúcar ou mel).

Então acreditem na lavagem nasal e na inalação com soro.🙏

Eles serão seus aliados em QUALQUER tipo de infecção de via aérea superior.

Raramente- leia-se nunca– prescrevemos xaropes anti-tussígenos (para cortar a tosse) em infecções agudas.

6) Certo! Mas meu filho está há um mês tossindo, isso é normal?

Depende.

Resfriados cursam com quadros que geram sintomas de 1-2 semanas.

No entanto, ainda mais nessa época, não é incomum que crianças tenham infecções consecutivas.

Por outro lado, se o quadro de tosse passa de 30 dias e não parece haver sintoma infeccioso associado é NECESSÁRIA a consulta com seu pediatra, ou alergista ou pneumologista.

Não esperem que o pronto-socorro resolva este tipo de queixa.

O pronto-socorro destina-se para queixas agudas, de poucos dias.

7) E não há um remédio para melhorar a imunidade?

Hoje existem diversos multivitamínicos. É só ir em qualquer farmácia e observar.

A verdade é que se houvesse uma vitamina milagrosa para melhorar a imunidade todos saberiam. Essa empresa estaria rica e os pais não estariam buscando o Santo Graal ainda hoje.

Sim, vou chover no molhado, mas a resposta você também sabe.

Resultados a longo prazo necessitam de constância.

Não existe remedinho milagroso para perder peso, não é mesmo?!?

Então, para imunidade ocorre o mesmo.

Aqui vão os passos para uma boa imunidade:

  • Crianças termo (sim, muitas vezes não podemos interferir nessa variante, mas vale lembrar que as grandes causas de prematuridade em nosso país ainda são as doença maternas descompensadas, por falta de um pré-natal adequado…).
  • Leite Materno ao menos até o 6 mês (novamente questões trabalhistas/sociais interferem neste quesito, mas é fato).
  • Na impossibilidade de Leite Materno, uso de Fórmula Adequada até o segundo ano de vida.
  • Evitar apresentação de Leite de Vaca antes de 1 ano de vida.
  • Evitar excesso de Leite.
  • Evitar uso de chupeta e mamadeiras após 2 anos de vida.
  • Evitar tabagismo passivo.
  • Evitar a entrada na escola/creche precocemente.
  • Introdução alimentar após o sexto mês de vida.
  • Boa alimentação (evitar guloseimas).
  • Atividade física regular.

8) E vacinas?

Sim!

1) Pneumocócica

O SUS fornece a vacina Pneumo 10 aos 2-4 meses e reforço com 1 ano.

Quem opta por fazer em Clínicas Particulares recebe a Pneumo 13 aos 2-4-6 meses e um reforço após 1 ano de idade.

Quem não recebeu a vacina 13 valente, pode receber uma nova dose em clínica particulares.

O Pneumococo é um dos principais agentes que causa otites, sinusites, pneumonias e até meningites.

2) Hemófilos Influenza Tipo B

O SUS fornece esta proteção na vacina Pentavalente fornecida aos 2-4-6 meses.

Quem realiza a vacinação em Clínicas Particulares, recebe uma quarta dose após 1 ano de idade com a Vacina Pentavalente Acelular.

É possível substituir a vacina DTP e Pólio Oral (Zé Gotinha) por essa vacina aos 15 meses de idade ou realizar a vacina Hib após 1 ano.

Percebeu? Hemófilos INFLUENZA?

Então, essa bactéria também pode causar otites, sinusites, pneumonias e até meningites.

3) Coronavírus

Pois é, o danado do Corona já podia causar MUITO problema antes da sua mutação em 2019.

Não preciso contar nada sobre ele.

E sabe o melhor? As vacinas são gratuitas!!!

A partir dos 6 meses temos a vacina Pfizer disponível e, após os 3 anos, esta e a Coronavac.

Apesar do medo dos pais e das fake news , nenhum evento adverso grave relatado até o momento.

Não deixem de vacinar os seus filhos.🙏

4) Gripe (Influenza)

A vacina é feita de vírus mortos. Portanto, NÃO causa gripe. Não caia nessa!!!

A Campanha já começou! Em Clínicas Particulares, a vacina cobre quatro tipos de vírus e a pública, três.

Em crianças que nunca receberam a vacina, recomenda-se 2 doses em um intervalo de um mês.

Para todas as outras, uma dose única anualmente.

BÔNUS

* E a vacina de Bronquiolite (Palivizumabe ou Synagis)?

Bom, primeiro gosto de explicar que ela não é uma vacina propriamente dita.

Ela age como um soro, ou seja, contém anticorpos prontos para serem fornecidos aos bebês e por isso deve ser feita mensalmente e durante 5 meses consecutivos, justamente nos meses de circulação do vírus Sincicial (vírus que causa a bronquiolite).

Sendo assim, ela não provê imunidade duradoura.

O SUS fornece a Palivizumabe apenas para:

– Prematuros com menos de 29 semanas no primeiro ano de vida.

– Pneumopatas e cardiopatas (existem condições específicas) nos dois primeiros anos anos de vida.

Ufaaaa!

Por hoje é só.

Cuidem-se. Cuidem dos pequenos!

E caso tenham dúvidas, é só deixar abaixo.

Nos vemos em breve.

Até lá!

Dr. Vinícius F. Z. Gonçalves

Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixa a nossa família cuidar da sua

Fontes:

  1. Sociedade Brasileira de Pediatria- Você conhece o VSR? Link: https://www.sbp.com.br/especiais/vsr/#:~:text=O%20V%C3%ADrus%20Sincicial%20Respiratório%20(VSR,%2C%20envelopado%2C%20da%20fam%C3%ADlia%20paramyxoviridae.&text=A%20maioria%20das%20crianças%20é,reinfecções%20durante%20toda%20a%20vida.
  2. Sociedade Brasileira de Pediatria. Boletim – Atenção Vírus Sincicial Respiratório. Link: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/Boletim_SBP_VSR_LSRK.pd
  3. Imagens:
  4. Sociedade Brasileira de Pediatria- Você conhece o VSR? Link: https://www.sbp.com.br/especiais/vsr/#:~:text=O%20V%C3%ADrus%20Sincicial%20Respiratório%20(VSR,%2C%20envelopado%2C%20da%20fam%C3%ADlia%20paramyxoviridae.&text=A%20maioria%20das%20crianças%20é,reinfecções%20durante%20toda%20a%20vida.
  5. Site Prefeitura Municipal de São Roque- Campanha de vacinação contra gripe segue em São Roque- https://www.saoroque.sp.gov.br/portal/noticias/0/3/8194/campanha-de-vacinacao-contra-gripe-segue-em-sao-roque

Como tratar piolho?

Olá! Tudo bem com vocês? Espero de todo coração que sim!

Hoje, por sugestão de uma mãe, irei falar sobre os piolhos. Como identificá-los, preveni-los e tratá-los.

Falando nisso, você tem sugestão de temas? Me encaminhe abaixo pela aba “Dúvidas ou Sugestões” ou pelo Instagram @clinicagoncalves ou @drvinicius_goncalves.

Além disso, gostaria de deixar aqui algumas publicações passadas sobre temas também relacionados com a volta às aulas:

  1. O que fazer se seu filho estiver com febre- https://clinicagoncalves.com/2021/01/12/o-medo-da-febre/
  2. Resfriados e dor de garganta- https://clinicagoncalves.com/2019/07/10/551/
  3. Bronquiolite- https://clinicagoncalves.com/2018/02/15/416/
  4. Mão-pé-boca- https://clinicagoncalves.com/2021/11/22/o-surto-de-mao-pe-boca/
  5. Vômitos e diarreia- https://clinicagoncalves.com/2019/05/14/536/

Bem, após todas essas dicas. Vamos aos piolhos!!!

1- Quem causa?

Quem causa a pediculose ou a infecção por piolho, é o ácaro Pediculus humanus capitis.

2- Como ele é transmitido?

Ele é transmitido de pessoa a pessoa, por contato direto. Portanto, não é transmitido a animais e nem é possível que seja transmitido do animal ao homem.

O compartilhamento de objetos pessoais também pode ser um meio de transmissão, como bonés, chapéus, escovas e pentes.

3- Como descobrir que meu filho tem piolho?

Uma pessoa com pediculose costuma ter MUITA coceira (prurido) no couro cabeludo. E por isso, ele também pode ficar avermelhado, com escoriações e casquinhas (crostas).

Além disso, podem aparecer ínguas ou gânglios (linfonodos) aumentados na parte de trás da cabeça, como a nuca ou atrás da orelha (occipital e auricular posterior). Veja a imagem abaixo:

4- Esse tipo de infecção é grave?

Não. Geralmente com o tratamento apropriado a doença é auto-limitada.

Entretanto, nem sempre ele é fácil e rápido.

A única possível complicação da doença seria a infecção do couro cabeludo por bactérias devido ao ato de coçar.

5- Existe prevenção?

Não. Infelizmente…

Ao saber que seu filho teve contato próximo com uma criança que tenha apresentado piolho, você deve realizar a avaliação diária dos cabelos do seu filho, penteando-o.

O uso de Ivermectina ou outros tratamentos não previnem a doença.

6- Como é feito o tratamento?

O tratamento é feito com soluções com Permetrina a 1% e podem ser utilizadas por quaisquer crianças com mais de 2 meses de idade.

E ele deve ser repetido após uma semana (geralmente nove dias após o tratamento).

Idealmente, deve-se lavar o cabelo e secá-lo. Aplicar o produto e deixar agir por 10 minutos e após enxaguá-lo com água morna.

A procura por lêndeas deve ser ATIVA!

Sempre penteie os cabelos com pente fino diluído com solução de vinagre ao meio ou condicionador a cada 2-3 dias.

Mas lembre-se: “Não se auto-medique! Uma avaliação médica é indispensável para a confirmação e para o tratamento adequado.”

7- Por que é preciso procurar as lêndeas e repetir o tratamento?

O piolho vive de 4-6 semanas.

Uma fêmea de piolho põe até- acredite- 140 lêndeas por vez!!! E geralmente, elas se aderem a 4 mm do couro cabeludo.

Como um fio de cabelo cresce cerca de 1cm/mês, é possível estimar o tempo de infestação pelo comprometimento do folículo piloso.

Após sete a nove dias, os ovos geram novos piolhos.

Sendo assim, é importantíssimo repetir o tratamento e realizar a busca e a retirada das lêndeas para um tratamento efetivo.

O tratamento com Ivermectina (comprimido) deve ser reservado apenas para casos refratários e para crianças com mais de 15 kg ou maiores de 5 anos de idade.

*** DICA DE OURO***

Para um tratamento efetivo, não esqueça de lavar os itens de uso pessoal como toalhas e roupas com água quente, preferencialmente acima de 50 graus celsius. E, se possível, secá-las com altas temperaturas e/ou passá-las com ferro quente.

Os pentes utilizados no tratamento, devem ser descartados ou deixados submersos em água quente, por no mínimo 10 minutos.

Fora do couro cabeludo, os piolhos vivem por apenas dois dias e os ovos (lêndeas), por no máximo sete dias.

Espero ter elucidado mais essa.

Como disse acima, se tiverem sugestões para os próximos temas podem deixá-las abaixo.

Nos vemos no próximo mês. Até lá!

Dr. Vinícius F. Z. Gonçalves

Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixa a nossa família cuidar da sua

Fontes:

  1. Pediculose (Piolho)- Sociedade Brasileira de Pediatria. Informativo para as Escolas- Grupo de Trabalho: Educação é Saúde (gestão 2022-2024). No 46, 17 de Fevereiro de 2023.
  2. Ectoparasitoses- Sociedade Brasileira de Pediatria. Documento Científico- Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial. No 5, Outubro de 2020.

Quando cortar o freio da língua?

Imagem 1

Olá! Tudo bem com vocês?

Eu espero que sim!

Hoje vou responder a mais essa pergunta: quando devemos cortar o freio da língua do bebê?

Mas, antes de tudo, vale destacar que essa é uma questão MUITO polêmica!

Em 2014, uma lei Federal foi sancionada, a Lei nº 13.002/2014, que oficializou o “Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua em Bebês”(o famoso Teste da Linguinha).

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), imediatamente publicou uma Nota de Esclarecimento em repúdio à expedição da lei. Dentre os motivos para a Nota:

  1. E principal: a SBP não foi consultada em nenhum momento. Desde a elaboração do projeto de lei até a sua promulgação.
  2. A avaliação da língua já era um procedimento realizado de rotina pelos pediatras.
  3. O estudo utilizado para a elaboração do projeto era um estudo brasileiro que avaliou -pasmem- APENAS 10 BEBÊS.
  4. Não havia um protocolo mundial ou consenso para a indicação da cirurgia (frenectomia ou frenotomia).

Para quem quiser ler a nota a fundo, deixo o link ao final do texto.

Muita água rolou e em 2019, a SBP encaminhou um ofício ao Ministério da Saúde solicitando a revogação da Lei nº 13.002, de 20 de junho de 2014.

Dentre os argumentos utilizados, destaco:

“O protocolo brasileiro inicialmente proposto pela lei aponta as maiores prevalências de anquiloglossia relatadas em todo o mundo, causando preocupação quanto a um provável superdiagnóstico. Vale ressaltar, também, que os estudos apontam a importância do seguimento nas primeiras semanas para os recém-nascidos com anquiloglossia que apresentarem dificuldades de amamentação. E este seguimento deve ser sempre realizado pelo pediatra”.

Para esclarecer, anquiloglossia seria a língua-presa “de verdade”. A sua incidência real na população é baixíssima e de fácil diagnóstico.

Mais do que isso, apesar de ser de fácil diagnóstico ele NÃO INDICA CIRURGIA!

Nenhuma ferramenta diagnóstica ou protocolo de triagem para a “língua presa” já criado é apropriado para o corte do freio da língua (frenectomia).

É indispensável a avaliação da mamada na Maternidade e após, ambulatorialmente, no consultório para uma possível indicação cirúrgica.

“E parecia que a Sociedade de Pediatria já estava prevendo o que estava por vir…”


Em 2018 e 2021, o Ministério da Saúde lançou notas técnicas para a orientação dos profissionais de saúde.

Nelas, o indicado seria a realização do Protocolo Bristol de Avaliação da Língua (BTAT) nos recém-nascidos nos primeiros dias de vida. Uma pontuação de 0-2 para 4 critérios seria dada ao paciente, sendo que, quanto menor a nota mais provável a chance de anquiloglossia grave (língua presa).

Veja abaixo:

***IMPORTANTE: Ainda assim, o Protocolo NÃO INDICA A CIRURGIA PARA CORTAR O FREIO LINGUAL!!! A avaliação da mamada ambulatorialmente continua sendo o PADRÃO-OURO.

Por fim, sim… prometo estou terminando.

No ano de 2022, a Sociedade de Cirurgia Pediátrica também se manifestou sobre o enorme aumento do número de frenectomias e frenotomias.

Destaco:

Ou seja, o procedimento NÃO é simples!

NÃO é só um “piquezinho”. NÃO é só um pontinho.

Pode trazer consequências seríssimas, lesões de glândulas e até de musculatura- eu infelizmente conheço e já presencieis alguns casos…

E sim, é necessário um profissional qualificado para realizá-lo.

Mais do que isso, é necessário um profissional qualificado para INDICÁ-LO!

Como havia dito, parece que a SBP já pressentia o que ia acontecer…

Em algumas partes do mundo, houve o aumento de mais de 800% do número de procedimentos cirúrgicos!!!

Uma lástima…

Espero que tenha respondido mais essa!

Nos vemos em breve.

Até lá!

Dr. Vinícius F. Z. Gonçalves

Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixa a nossa família cuidar da sua

Fontes:

  1. Nota de Esclarecimento (Sociedade Brasileira de Pediatria) Agosto 2014- https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/pdfs/nota_esclarecimento-dc_neo.pdf
  2. SBP solicita ao Ministério da Saúde revogação da lei que torna obrigatório o Teste da Linguinha em recém-nascidos (18/04/2019) – https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/sbp-solicita-ao-ministerio-da-saude-revogacao-da-lei-que-torna-obrigatorio-o-teste-da-linguinha-em-recem-nascidos/
  3. NOTA TÉCNICA Nº 35/2018- Ministério da Saúde- https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/anquiloglossia_ministerio_saude_26_11_2018_nota_tecnica_35.pdf
  4. NOTA TÉCNICA Nº 11/2021- Ministério da Saúde- Para a Triagem de Anquiloglossia- https://egestorab.saude.gov.br/image/?file=20210601_N_NT11AVALIACAOFRENULOLINGUALRN_772086272972157347.pdf
  5. NOTA TÉCNICA- FREIO LINGUAL – FRENOTOMIA LINGUA- Sociedade de Cirurgia Pediátrica- Maio 2022- https://cipe.org.br/novo/wp-content/uploads/2022/05/NOTA-TECNICA-FREIO-LINGUAL-FRENOTOMIA-LINGUAL.pdf

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1. Imagem 1- Retirada: https://www.babocush.com/blogs/news/tongue-tie-in-babies-what-you-need-to-know