Como tratar piolho?

Olá! Tudo bem com vocês? Espero de todo coração que sim!

Hoje, por sugestão de uma mãe, irei falar sobre os piolhos. Como identificá-los, preveni-los e tratá-los.

Falando nisso, você tem sugestão de temas? Me encaminhe abaixo pela aba “Dúvidas ou Sugestões” ou pelo Instagram @clinicagoncalves ou @drvinicius_goncalves.

Além disso, gostaria de deixar aqui algumas publicações passadas sobre temas também relacionados com a volta às aulas:

  1. O que fazer se seu filho estiver com febre- https://clinicagoncalves.com/2021/01/12/o-medo-da-febre/
  2. Resfriados e dor de garganta- https://clinicagoncalves.com/2019/07/10/551/
  3. Bronquiolite- https://clinicagoncalves.com/2018/02/15/416/
  4. Mão-pé-boca- https://clinicagoncalves.com/2021/11/22/o-surto-de-mao-pe-boca/
  5. Vômitos e diarreia- https://clinicagoncalves.com/2019/05/14/536/

Bem, após todas essas dicas. Vamos aos piolhos!!!

1- Quem causa?

Quem causa a pediculose ou a infecção por piolho, é o ácaro Pediculus humanus capitis.

2- Como ele é transmitido?

Ele é transmitido de pessoa a pessoa, por contato direto. Portanto, não é transmitido a animais e nem é possível que seja transmitido do animal ao homem.

O compartilhamento de objetos pessoais também pode ser um meio de transmissão, como bonés, chapéus, escovas e pentes.

3- Como descobrir que meu filho tem piolho?

Uma pessoa com pediculose costuma ter MUITA coceira (prurido) no couro cabeludo. E por isso, ele também pode ficar avermelhado, com escoriações e casquinhas (crostas).

Além disso, podem aparecer ínguas ou gânglios (linfonodos) aumentados na parte de trás da cabeça, como a nuca ou atrás da orelha (occipital e auricular posterior). Veja a imagem abaixo:

4- Esse tipo de infecção é grave?

Não. Geralmente com o tratamento apropriado a doença é auto-limitada.

Entretanto, nem sempre ele é fácil e rápido.

A única possível complicação da doença seria a infecção do couro cabeludo por bactérias devido ao ato de coçar.

5- Existe prevenção?

Não. Infelizmente…

Ao saber que seu filho teve contato próximo com uma criança que tenha apresentado piolho, você deve realizar a avaliação diária dos cabelos do seu filho, penteando-o.

O uso de Ivermectina ou outros tratamentos não previnem a doença.

6- Como é feito o tratamento?

O tratamento é feito com soluções com Permetrina a 1% e podem ser utilizadas por quaisquer crianças com mais de 2 meses de idade.

E ele deve ser repetido após uma semana (geralmente nove dias após o tratamento).

Idealmente, deve-se lavar o cabelo e secá-lo. Aplicar o produto e deixar agir por 10 minutos e após enxaguá-lo com água morna.

A procura por lêndeas deve ser ATIVA!

Sempre penteie os cabelos com pente fino diluído com solução de vinagre ao meio ou condicionador a cada 2-3 dias.

Mas lembre-se: “Não se auto-medique! Uma avaliação médica é indispensável para a confirmação e para o tratamento adequado.”

7- Por que é preciso procurar as lêndeas e repetir o tratamento?

O piolho vive de 4-6 semanas.

Uma fêmea de piolho põe até- acredite- 140 lêndeas por vez!!! E geralmente, elas se aderem a 4 mm do couro cabeludo.

Como um fio de cabelo cresce cerca de 1cm/mês, é possível estimar o tempo de infestação pelo comprometimento do folículo piloso.

Após sete a nove dias, os ovos geram novos piolhos.

Sendo assim, é importantíssimo repetir o tratamento e realizar a busca e a retirada das lêndeas para um tratamento efetivo.

O tratamento com Ivermectina (comprimido) deve ser reservado apenas para casos refratários e para crianças com mais de 15 kg ou maiores de 5 anos de idade.

*** DICA DE OURO***

Para um tratamento efetivo, não esqueça de lavar os itens de uso pessoal como toalhas e roupas com água quente, preferencialmente acima de 50 graus celsius. E, se possível, secá-las com altas temperaturas e/ou passá-las com ferro quente.

Os pentes utilizados no tratamento, devem ser descartados ou deixados submersos em água quente, por no mínimo 10 minutos.

Fora do couro cabeludo, os piolhos vivem por apenas dois dias e os ovos (lêndeas), por no máximo sete dias.

Espero ter elucidado mais essa.

Como disse acima, se tiverem sugestões para os próximos temas podem deixá-las abaixo.

Nos vemos no próximo mês. Até lá!

Dr. Vinícius F. Z. Gonçalves

Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixa a nossa família cuidar da sua

Fontes:

  1. Pediculose (Piolho)- Sociedade Brasileira de Pediatria. Informativo para as Escolas- Grupo de Trabalho: Educação é Saúde (gestão 2022-2024). No 46, 17 de Fevereiro de 2023.
  2. Ectoparasitoses- Sociedade Brasileira de Pediatria. Documento Científico- Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial. No 5, Outubro de 2020.

Quando cortar o freio da língua?

Imagem 1

Olá! Tudo bem com vocês?

Eu espero que sim!

Hoje vou responder mais essa pergunta: quando devemos cortar o freio da língua do bebê?

Mas, antes de tudo, vale destacar que essa é uma questão MUITO polêmica!

Em 2014, uma lei Federal foi sancionada, a Lei nº 13.002/2014, que oficializou o “Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua em Bebês”(o famoso Teste da Linguinha).

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), imediatamente publicou uma Nota de Esclarecimento em repúdio à expedição da lei. Dentre os motivos para a Nota:

  1. E principal: a SBP não foi consultada em nenhum momento. Desde a elaboração do projeto de lei até a sua promulgação.
  2. A avaliação da língua já era um procedimento realizado de rotina pelos pediatras.
  3. O estudo utilizado para a elaboração do projeto era um estudo brasileiro que avaliou -pasmem- APENAS 10 BEBÊS.
  4. Não havia um protocolo mundial ou consenso para a indicação da cirurgia (frenectomia ou frenotomia).

Para quem quiser ler a nota a fundo, deixo o link ao final do texto.

Muita água rolou e em 2019, a SBP encaminhou um ofício ao Ministério da Saúde solicitando a revogação da Lei nº 13.002, de 20 de junho de 2014.

Dentre os argumentos utilizados, destaco:

“O protocolo brasileiro inicialmente proposto pela lei aponta as maiores prevalências de anquiloglossia relatadas em todo o mundo, causando preocupação quanto a um provável superdiagnóstico. Vale ressaltar, também, que os estudos apontam a importância do seguimento nas primeiras semanas para os recém-nascidos com anquiloglossia que apresentarem dificuldades de amamentação. E este seguimento deve ser sempre realizado pelo pediatra”.

Para esclarecer, anquiloglossia seria a língua-presa “de verdade”. A sua incidência real na população é baixíssima e de fácil diagnóstico.

Mais do que isso, apesar de ser de fácil diagnóstico ele NÃO INDICA CIRURGIA!

Nenhuma ferramenta diagnóstica ou protocolo de triagem para a “língua presa” já criado é apropriado para o corte do freio da língua (frenectomia).

É indispensável a avaliação da mamada na Maternidade e após, ambulatorialmente, no consultório para uma possível indicação cirúrgica.

“E parecia que a Sociedade de Pediatria já estava prevendo o que estava por vir…”


Em 2018 e 2021, o Ministério da Saúde lançou notas técnicas para a orientação dos profissionais de saúde.

Nelas, o indicado seria a realização do Protocolo Bristol de Avaliação da Língua (BTAT) nos recém-nascidos nos primeiros dias de vida. Uma pontuação de 0-2 para 4 critérios seria dada ao paciente, sendo que, quanto menor a nota mais provável a chance de anquiloglossia grave (língua presa).

Veja abaixo:

***IMPORTANTE: Ainda assim, o Protocolo NÃO INDICA A CIRURGIA PARA CORTAR O FREIO LINGUAL!!! A avaliação da mamada ambulatorialmente continua sendo o PADRÃO-OURO.

Por fim, sim… prometo estou terminando.

No ano de 2022, a Sociedade de Cirurgia Pediátrica também se manifestou sobre o enorme aumento do número de frenectomias e frenotomias.

Destaco:

Ou seja, o procedimento NÃO é simples!

NÃO é só um “piquezinho”. NÃO é só um pontinho.

Pode trazer consequências seríssimas, lesões de glândulas e até de musculatura- eu infelizmente conheço e já presencieis alguns casos…

E sim, é necessário um profissional qualificado para realizá-lo.

Mais do que isso, é necessário um profissional qualificado para INDICÁ-LO!

Como havia dito, parece que a SBP já pressentia o que ia acontecer…

Em algumas partes do mundo, houve o aumento de mais de 800% do número de procedimentos cirúrgicos!!!

Uma lástima…

Espero que tenha respondido mais essa!

Nos vemos em breve.

Até lá!

Dr. Vinícius F. Z. Gonçalves

Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixa a nossa família cuidar da sua

Fontes:

  1. Nota de Esclarecimento (Sociedade Brasileira de Pediatria) Agosto 2014- https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/pdfs/nota_esclarecimento-dc_neo.pdf
  2. SBP solicita ao Ministério da Saúde revogação da lei que torna obrigatório o Teste da Linguinha em recém-nascidos (18/04/2019) – https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/sbp-solicita-ao-ministerio-da-saude-revogacao-da-lei-que-torna-obrigatorio-o-teste-da-linguinha-em-recem-nascidos/
  3. NOTA TÉCNICA Nº 35/2018- Ministério da Saúde- https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/anquiloglossia_ministerio_saude_26_11_2018_nota_tecnica_35.pdf
  4. NOTA TÉCNICA Nº 11/2021- Ministério da Saúde- Para a Triagem de Anquiloglossia- https://egestorab.saude.gov.br/image/?file=20210601_N_NT11AVALIACAOFRENULOLINGUALRN_772086272972157347.pdf
  5. NOTA TÉCNICA- FREIO LINGUAL – FRENOTOMIA LINGUA- Sociedade de Cirurgia Pediátrica- Maio 2022- https://cipe.org.br/novo/wp-content/uploads/2022/05/NOTA-TECNICA-FREIO-LINGUAL-FRENOTOMIA-LINGUAL.pdf

Imagens:

1. Imagem 1- Retirada: https://www.babocush.com/blogs/news/tongue-tie-in-babies-what-you-need-to-know

Cuidado com a Pipoca!

Olá! Tudo bem com vocês? Espero que sim!

Hoje, Dia de Copa! Mês da Copa! Todos animados. Vamos Brasil!!!

Mas também é uma época de MUITO cuidado!!!

Todos os anos temos diversos casos de crianças que engasgam com alimentos pequenos como: pipoca, amendoim, castanhas, nozes, uvas-passas…

Ainda, devemos ter um cuidado especial com os alimentos arredondados como ovos de codorna, tomates-cereja e uvas.

Existem vários casos de crianças que engasgam com esses alimentos e que precisam de atendimento médico em Unidades de Terapia Intensiva. Alguns casos trágicos como o do exemplo abaixo, infelizmente.

https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2019/11/06/bebe-morre-ao-engasgar-com-pipoca-veja-quais-alimentos-sao-perigosos.amp.htm


Apesar de não haver um consenso, a Academia Americana de Pediatria contra-indica a oferta desses alimentos para crianças com menos de 4 anos.

Muitos pediatras, assim como eu, acham POSSÍVEL a oferta para crianças com mais de 2 anos e SEMPRE com a supervisão dos pais.

Muito cuidado!

É tempo de festa e comemoração, mas também de intensificar os cuidados com os pequenos!

Caso haja engasgo, deixo abaixo o link de um vídeo que publiquei de como desengasgar bebês e crianças com mais de 1 ano de idade. Se liga!

1) Para bebês:

https://www.instagram.com/reel/Cf4_JAJA8vj/?igshid=YmMyMTA2M2Y=

2) Em crianças maiores e adultos:

https://www.instagram.com/reel/Cf4_v1GgBen/?igshid=YmMyMTA2M2Y=

Deixo também o link sobre uma postagem que fiz há alguns meses de como proceder em casos de engasgo com moedas e outros corpos estranhos.

https://clinicagoncalves.com/2022/04/26/meu-filho-engoliu-uma-moeda-e-agora/

Por hoje é só!

Ótimos jogos para nós e redobrem os cuidados com os pequenos.

Até mais.

Dr Vinícius F. Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixe a nossa família cuidar da sua

Extensão da licença-maternidade para Mães de Prematuros

Olá! Como estão todos vocês? Espero que bem!

Estamos há menos de um mês do “Dia Mundial da Prematuridade”, o dia 17 de Novembro.

Quer saber mais sobre essa data? Confira aqui: https://clinicagoncalves.com/2019/11/28/novembro-roxo/

Hoje, no Brasil, cerca de 10% dos bebês nascidos são prematuros, cerca de 300 mil bebês/ano.

E, temos MUITO o que comemorar!

No dia 21/10/2022 foi aprovado por UNANIMIDADE a extensão da licença-maternidade para as mães de bebês nascidos prematuros.

Este assunto já vinha sendo discutido desde 2020, mas ainda em caráter provisório…

Há uma semana, a lei foi sancionada pelo Superior Tribunal de Justiça (STF) e diz que: “o início da licença-maternidade começa após alta hospitalar da mãe ou do recém-nascido, o que ocorrer por último.”

O entendimento vale para internações longas, acima do período de duas semanas, e obviamente, engloba os casos de bebê prematuros.

1) Mas qual era a regra antiga? 

O afastamento da gestante poderia ocorrer entre o 28° dia antes do parto e a data de nascimento do bebê. Pela legislação anterior, a licença-maternidade tem duração de 120 dias, período no qual a mulher tem direito ao salário-maternidade, cujos custos devem ser arcados pela Previdência Social.

2) E o que mudou?

Atualmente nos casos em que se a exija internação prolongada da mãe ou da criança, bebês prematuros ou quando houver complicação decorrente do parto e se exija a permanência por mais de 14 dias, internado, esse período não será considerado na contagem dos 120 dias de afastamento remunerado ao qual a gestante tem direito.  

3) Mas a partir de quando o tempo de licença-maternidade é contado?

O início determinado é a partir da alta hospitalar da mãe ou do recém-nascido, o que ocorrer por último.

4) E se houver uma nova internação? O prazo será extendido?

Não. Se porventura aconteça uma internação posterior à alta, o período de internação não será considerado para fins de prorrogação do benefício.

Se restar dúvida, deixo abaixo o link da Portaria Conjunta de N°28, de 19 de março de 2021.

5) Tá certo. Mas o porquê de tanta comemoração?

Hoje, infelizmente, uma minoria das mães conseguem amamentar os seus bebês.

Seja por dificuldades em relação ao parto, à própria amamentação ou devido à pressão externa da família ou amigos…

As famosas frases:

  • ” Seu leite é fraco”
  • ” Seu leite não sustenta”
  • ” É por isso que ele não dorme”
  • ” Dá uma mamadeira para ele que você vai ver como ele passa a noite toda”
  • ” Na minha época, você já estava comendo caldinho de feijão com 2-3 meses”

Enfim, além dessa enormidade de baboseiras, soma-se a necessidade da volta ao trabalho.

Atualmente, no Brasil, a amamentação exclusiva alcança 45,8% dos bebês com até seis meses.

Muitas mulheres têm que ou são estimulas a interromper a amamentação para voltar ao trabalho.

Além das enormes perdas, referentes à nutrição, imunidade, desenvolvimento cognitivo… Temos também a perda do vínculo mãe-bebê.

Em especial, àquelas que já tem a sua maternidade e o seu puerpério interrompidos pelo nascimento prematuro e pela internação prolongada em UTI.

Deixo aqui as palavras Dr. Clóvis Francisco Constantino, Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP):

“Essa é uma decisão histórica, que vem ao encontro de todos os pleitos que temos feito nos últimos anos no que tange a proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno. Todos nós sabemos, e já está mais que comprovado cientificamente, os benefícios do leite materno para as crianças e para as mães que amamentam.”

VAMOS COMEMORAR! TEMOS MUITO O QUE COMEMORAR!!!

Saiba e exija os seus direitos.

Todos a favor da amamentação!!!

Até a próxima.

Dr Vinícius F. Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixe a nossa família cuidar da sua.

Fontes:

  1. Portaria Conjunta de N°28, de 19 de março de 2021. Link: https://drive.google.com/file/d/1pAC62_M8VW-6rydvCDurJ9e56L4wSM4v/view
  2. SBP comemora decisão do STF que garante licença-maternidade às mães de prematuros a partir da alta hospitalar. Link: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/sbp-comemora-decisao-do-stf-que-garante-licenca-maternidade-as-maes-de-prematuros-a-partir-da-alta-hospitalar/
  3. Licença-maternidade passa a ser contada a partir da alta hospitalar. Link: https://olhardigital.com.br/2022/10/25/medicina-e-saude/licenca-maternidade-passa-a-ser-contada-a-partir-da-alta-hospitalar/
  4. Compreenda as mudanças na licença-maternidade. Link: https://rblh.fiocruz.br/compreenda-mudancas-na-licenca-maternidade
  5. Taxa de amamentação no Brasil. Link: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/agosto/ministerio-da-saude-lanca-campanha-na-semana-nacional-de-amamentacao

Como tratar assadura?

Olá! Como estão vocês? Espero que bem!

Depois de um longo inverno- literalmente – cá estou eu.

E, dessa vez, para falar sobre as assaduras.

1) O que causa a assadura?

Acho importante, antes de tudo, dizer que a assadura é chamada, no meio médico, de “dermatite de fraldas” ou “dermatite amoniacal”. E, apenas isto, já nos indica o que pode causá-la.

Ela é causada, portanto, por um processo inflamatório (dermatite) por um irritante primário, geralmente, pelo contato prolongado com as fezes/urina do bebê.

Portanto, o misto de:

  • Abafamento da pele
  • Contato prolongado com o xixi e o cocô*
  • Enzimas digestivas
  • Micro-organismos

É o que costuma gerar a assadura.

*Obs.: o xixi e o cocô tem um pH mais BÁSICO e não ácido, como as pessoas pensam… A ureia é degradada em amônia e pode causar a irritação (por isso também é conhecida como “dermatite amoniacal”). 😉

2) Como posso prevenir e/ou tratar a assadura?

Entendendo o que causa a assadura, também podemos preveni-la e até tratá-la.

Devemos, portanto :

  • Realizar trocas de fraldas frequentemente (em recém-nascidos em 1-2 horas, já em crianças maiores, esse intervalo pode ser um pouco maior, em 3-4 horas)
  • Durante um episódio de diarreia ou durante o uso de antibióticos, otimizar as trocas (geralmente as fezes ficam mais BÁSICAS) aumentando a chance de irritação
  • Realizar a limpeza, preferencialmente, com água morna e algodão (os lenços umedecidos podem conter álcool- mesmo aqueles que dizem que não contêm…- mais explicações a seguir)
  • Logo após a limpeza, secar a pele e/ou deixar a pele secar naturalmente, deixando-a descoberta e expondo-a ao sol
  • Aplicar uma FINA camada de pomada nas áreas de contato com a fralda

3) Existem tipos diferentes de assaduras?

A resposta é: S-I-M!

A dermatite de fraldas convencional comporta-se como uma dermatite de contato. Logo, a lesão ocorre justamente onde há contato com a fralda (lesão em “W”), preservando as áreas em que a fralda não toca. Observe a imagem abaixo:

Em compensação, como disse no começo do texto, pode haver dermatite também por micro-organismos.

Principalmente, após uma dermatite de fraldas convencional, pode haver colonização da pele por fungos, como a Candida sp.

Os fungos adoram áreas quentes, úmidas e abafadas. Sendo assim, a região de dobras, principalmente as dobrinhas dos bebês, são locais excelentes para a infecção. Veja:

Sendo assim, nesse e APENAS nesses casos uma pomada anti-fúngica deve ser usada e com indicação médica.

Lembrando que existem diversos tipos de dermatites (assaduras), sendo indispensável a avaliação médica.

NÃO se auto-medique e nem utilize uma pomada que uma amiga indicou porque “deu certo com o filho dela”…


DICAS DE OURO

Aqui gostaria de deixar algumas dicas.

Às vezes, saber o que você não deve fazer pode ter tanto ou até mais valor, em alguns casos…

Vamos lá!

1) Evite o uso de lenços umedecidos para a limpeza. Mesmo aqueles “sem álcool”.

Uma grande parte dos lenços umedecidos vêm com uma mensagem em destaque em suas embalagens: “SEM ÁLCOOL”.

O que gosto de destacar nas consultas é que alguns fabricantes são mais honestos e optam pela mensagem: “SEM ÁLCOOL ETÍLICO”.

Sim, correto!

A grande maioria dos lenços que dizem que não contém álcool, realmente não apresentam álcool etílico (álcool presentes em bebidas alcoólicas e em combustíveis), mas costumam ter outros tipos de álcool mascarados…

O PEG (polietilenoglicol) também é um álcool. Leia os rótulos

E todo álcool potencialmente desidrata e pode lesionar ainda mais a pele. Principalmente, se friccionado contra ela.

2) Limpeza com água e sabão NEM SEMPRE ajuda

Como as dermatites costumam estar relacionadas com o pH BÁSICO do xixi e do cocô (lembram-se???), o uso de sabonetes básicos pode piorar a lesão de pele.

Prefira sim a limpeza com água morna e algodão.

Utilize na limpeza sabonetes de pH ácido (PH<7,0).

3) Utilize a MENOR quantidade de pomada possível

Aplique uma fina camada de pomada. A ponto de ficar quase translúcida.

Independentemente do tipo de pomada: óxido de zinco e/ou petrolato, de óleo de fígado de bacalhau, aloe bar- badensis, dimeticona ou dexpantenol.

Como a assadura é provocada pelo abafamento da pele, quanto mais pomada, mais abafamento, mais lesão…

Evite retirar a pomada em todas as trocas, caso ela não esteja com fezes/ urina.

4) NÃO utilize pomada de Nistatina sem indicação médica e nem como “prevenção”

Você, por acaso, acha prudente tomar um copo de antibiótico todos os dias para prevenir infecção?

Espero que não!

A Nistatina é uma medicação anti-fúngica.

Infelizmente, vendida sem receita médica…

Muitos pais acabam utilizando a Nistatina sem indicação médica e até para “prevenção” da assadura.

Esta medida pode provocar resistência ao tratamento contra fungos, quando realmente necessário (dermatite fúngica).

Só utilize Nistatina ou qualquer outra pomada anti-fúngica com indicação médica.

5) Trocar a marca da fralda dificilmente irá tratar a assadura

É muito comum que os pais comecem a trocar as marcas de fralda para tratar assadura- muitas vezes sem sucesso.

Atualmente, as marcas de fralda têm um grande poder de absorção, inclusive as ecológicas. Portanto, realizando trocas frequentes e deixando o bebe sequinho deve ser o suficiente para o tratamento das assaduras.

A mudança de marca algumas vezes dá a falsa impressão de melhora devido a mudança do local de contato. Vou explicar!

Imagine que você foi à praia no final de ano e utilizou uma sunga ou biquíni mais cavado e, que você ficou com ele o dia todo, gerando uma assadura. Caso você mantenha utilizando a mesma roupa de baixo nos próximos dias, a tendência é que a lesão só piore.

Então, você tem a ideia de utilizar uma roupa de baixo maior, estilo boxer, e percebe que sente um alívio no local da assadura.

Paralelo feito, é mais ou menos isso que ocorre quando se muda a marca da fralda. Muda-se o local de contato e pode haver uma melhora temporária da lesão.

No entanto, caso o bebê continue úmido, seja utilizada uma grande quantidade de pomada e de lenços umedecidos, as lesões reaparecerão.

Sim, existem dermatites alérgicas (de contato) por componentes específicos da fralda, mas além de mais raras, elas provocam lesões diferentes das citadas até aqui.


Por hoje é só!

Dúvidas ou sugestões? É só deixá-las abaixo.

Até a próxima.

Dr Vinícius F. Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES– Deixe a nossa família cuidar da sua.

Fontes:

1) Sociedade Brasileira de Pediatria- Documento Científico- Departamento Científico de Dermatologia- Dermatite de Fraldas- Diagnósticos Diferenciais- Outubro 2016

Imagens:

1) Sociedade Brasileira de Pediatria- Documento Científico- Departamento Científico de Dermatologia- Dermatite de Fraldas- Diagnósticos Diferenciais- Outubro 2016

TUDO sobre a nova Hepatite

Olá, tudo bem com vocês? Eu espero que sim!

Hoje falarei sobre a nova Hepatite, também chamada de Hepatite Aguda de Etiologia de Desconhecida ou Hepatite Misteriosa.

Vamos lá?

1) O que é Hepatite?

A Hepatite é uma doença inflamatória do fígado, de origem multifatorial e que pode gerar lesões neste órgão.

O fígado é um dos primeiros órgãos a metabolizar (filtrar) qualquer substância que entramos em contato e que absorvemos pelo sangue.

Portanto, como falei acima, vários fatores podem gerar lesões nele, como medicamentos, excesso de gordura (colesterol), agentes parasitários e infecciosos, como vírus e bactérias.

2) Quem causa a nova Hepatite?

Ainda não foi isolado um fator causal específico.

Em parte dos casos estudados, tem se tentado correlacionar a infecção pelo novo Coronavírus e/ou a coinfecção dele com o Adenovírus, um outro vírus comum que causa resfriado, com a nova Hepatite.

Mas ainda tudo é muito especulativo…

Até por isso, ela continua sendo chamada de “Hepatite Aguda de Etiologia Desconhecida”.

3) Por que as crianças podem ser mais susceptíveis?

Várias fatores estão sendo estudados, como por exemplo:

  • Algum cofator (ou a falta dele) que faça com que as crianças que adquiriram o Adenovírus comum estejam apresentando complicações mais sérias.
  • Um aumento da susceptibilidade devido ao isolamento social na Pandemia.
  • Uma complicação pela infecção pelo novo Coronavírus ou uma infecção associada com o Adenovírus comum
  • Uma complicação pela infecção pela variante Omicron ou uma nova mutação do Sars-Cov-2.
  • Uma toxina, droga ou exposição ambiental ainda não isolada.

4) Existem muitos casos notificados?

A OMS (Organização Mundial de Saúde) iniciou a primeira notificação de casos em 05 de Abril de 2022 na Escócia, totalizando 10 casos em crianças de 11 meses a 5 anos de idade, previamente saudáveis. Sete delas necessitaram de transplante de fígado e, todas, de internação.

Após isto, vários países da Europa também realizaram notificações de novos casos de Hepatites de causa desconhecida, como a Bélgica, Irlanda, França, Itália, Holanda, Espanha…

Na última atualização em 25 de abril, o número total de casos chegou a 145. Dos confirmados, 108 são residentes na Inglaterra, 17 na Escócia, 11 no País de Gales e 9 estão na Irlanda do Norte. Nenhuma criança morreu e nenhuma delas tinha tomado algum tipo de vacina contra covid-19.

5) E no Brasil?

No dia 28 de Abril de 2022, foi notificado o primeiro caso provável de Hepatite Aguda de Etiologia Desconhecida no estado do Rio de Janeiro.

Até o dia 05 de Maio, foram contabilizamos 7 casos prováveis nos estados do Rio de Janeiro e Paraná, os quais estão atualmente em investigação.

6) Quais são os sintomas da infecção?

Os sintomas mais comuns são:

Icterícia- amarelão (74%);
Vômitos (73%);
Acolia/hipocolia-cocô branco (58%);
Diarreia (49%);
Náusea (39,5%);
Letargia (55,6%);
Febre (29,6%)
Sintomas respiratórios (19,8%)

Em geral, os pais devem estar de olho e procurar auxílio médico se seus filhos apresentarem um quadro de diarreia e vômitos associado à icterícia (amarelão no corpo/ olhos).

7) O que é um caso provável?

Um quadro de Hepatite Aguda (com elevação das enzimas do fígado acima de 500 UI/L), após excluídas outras causas de Hepatites, em crianças com menos de 17 anos, após o dia 20 de Abril de 2022.

8) Outras causas de Hepatites?

Sim! Como disse acima, existem diversas causas de Hepatites.

As mais comuns acontecem após infecção por vírus (Hepatites A, B, C, D e E).

Então, só se deve pensar na nova Hepatite, após exclusão de outras causas de Hepatites (infecções, uso de medicamentos…).

9) Existem vacinas contra a Hepatite?

Sim!

Geralmente as crianças recebem a vacina contra a Hepatite B ao nascer. E com 2, 4 e 6 meses recebem reforços contidos na vacina Pentavalente Ou Hexavalente.

Após um ano de idade, as crianças recebem a vacina contra a Hepatite A. O SUS realiza dose única com 15 meses. Em âmbito particular, são realizadas duas doses com intervalo de 6 meses, geralmente com 12 meses e 18 meses.

É possível complementar (e digo que é até recomendável) a vacina feita pelo SUS contra a Hepatite A, 6 meses após a criança ter sido imunizada.

Para adultos que não receberam nenhuma vacina contra as Hepatites, é possível realizar em clínicas particulares a Vacina contra a Hepatite A e B conjuntamente.

*** ATUALIZAÇÃO ***

Enquanto preparava o texto para a publicação, surgiram novas notícias.

No dia 31/05/22, o Brasil notificou o seu primeiro caso provável de Hepatite de Causa Desconhecida.

O fato aconteceu em Ponta Porã, Mato Grosso do Sul, em uma adolescente de 16 anos.

Atualmente, no Brasil, existem 95 casos suspeitos e, 26 descartados. A maioria localizado na região Sudeste.

No mundo, a OMS já contabiliza 650 casos, em 33 países e um total de 9 óbitos pela doença.

Bem, por hoje é só!

Como toda nova doença tudo ainda é muito especulativo. Mais pode e deve ser estudado sobre.

Havendo novidades, eu volto com mais informações.

Nos vemos na próxima.

Até!

Dr Vinícius F. Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixe a nossa família cuidar da sua

Fontes:

1) Hepatite Aguda de Causa Desconhecida- Sociedade de Pediatria de São Paulo- Texto divulgado em 16/05/2022. Link: https://www.spsp.org.br/2022/05/16/hepatite-aguda-de-causa-desconhecida/

2) Viver Bem- Portal UOL- Link: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/agencia-estado/2022/06/01/brasil-tem-1-caso-provavel-de-hepatite-misteriosa-que-ataca-criancas.htm – acesso 01/05/22

Meu filho engoliu uma moeda! E agora?!?

Imagem: https://www.todayonline.com/brandstudio/emergency/choking

Olá! Tudo bem com vocês? Espero que sim!

Hoje, aproveitando o novo documento da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), lançado neste mês, irei abordar o tema “Ingestão de Corpos Estranhos”.

O que fazer se seu filho engoliu um objeto? Quando você deve se preocupar?

Falarei disso tudo nas próximas linhas, mas deixo o convite para você ler antes sobre os Acidentes Domésticos e o que fazer se seu filho bater a cabeça (quando levar ao PS):

https://clinicagoncalves.com/2020/06/09/acidentes/

Antes de começarmos, gosto de frisar que os acidentes, estatisticamente falando, acontecem mais na férias, feriados, finais-de-semana, em dias quentes e são mais comuns nos meninos, do que nas meninas.

Então, redobrem os cuidados nestes períodos!

1) Quais são os objetos que costumam ser mais ingeridos?

Nesta ordem: moedas, baterias, objetos perfuro-cortantes e imãs.

Destaque para as baterias, pelo risco de vazamento e complicações graves e para os ímãs, principalmente, os de neodímio, que têm maior poder magnético ou quando ingeridos em mais de uma unidade (dois ou mais)

2) Qual a gravidade da ingestão de corpos estranhos?

É claro que isso irá depender de vários fatores, principalmente, de qual tipo de objeto foi ingerido e há quanto tempo.

No entanto, temos dados tranquilizadores:

Cerca de 70-80% dos corpos estranhos ingeridos por crianças são eliminados espontaneamente, sem nenhuma necessidade de intervenção ou complicação.

Aproximadamente 20% dos casos necessitarão de retirada por endoscopia.

E, apenas, 1% deles necessitarão de retirada por cirurgia.

“Cerca de 70-80% dos corpos estranhos ingeridos por crianças são eliminados espontaneamente, sem nenhuma necessidade de intervenção ou complicação.”

3) Quais exames devem ser feitos para investigação?

Depois de retirada a história do paciente e realizado o exame físico, geralmente a radiografia de cervical (pescoço), tórax e abdômen é suficiente para a realização do diagnóstico.

Fonte: Ingestão de Corpos Estranhos- Sociedade Brasileira de Pediatria

A Tomografia fica reservada para os casos em que o objeto é rádio transparente- ou seja, não aparece na radiografia- e quando há risco de complicações.

Já a Endoscopia pode ser realizada para o diagnóstico e tratamento, em casos específicos (abordados a seguir)

4) Se eu não vi meu filho engolindo um objeto, como posso desconfiar?

Inicialmente, devemos levar em conta a idade.

Crianças de até 3 anos de idade estão em plena fase oral, sendo comum levar objetos à boca para descobri-los. Ainda assim, todo cuidado com os menores de 5 anos.

Além disso, podemos desconfiar de um caso de ingestão de corpo estranho quando a criança apresenta dor ou dificuldade para engolir, salivação, recusa alimentar, vômitos, saliva com sangue ou vômitos com sangue, fezes com sangramento ou dor no pescoço, tórax ou abdômen repentinas.

5) E o que eu faço se meu filho tiver engolido um objeto? Quando devo ir ao Pronto-Socorro?

Se o seu filho não estiver com nenhuma queixa (assintomático), se o que ele ingeriu for arredondado, com um comprimento menor que 2,5 cm de diâmetro ou 6 cm de comprimento, se este objeto não elimina substâncias tóxicas (como baterias, por exemplo) e se ele não tiver nenhuma problema gastrointestinal prévio (não passou por cirurgias anteriormente)- É TOTALMENTE POSSÍVEL AGUARDAR EM CASA.

Esse objeto com certeza será eliminado naturalmente (irá sair com as fezes).

Em caso contrário, principalmente se seu filho estiver sintomático, ou se o objeto ingerido for perfuro-cortante ou se ele for uma bateria, dois ou mais ímãs ou um ímã e um objeto metálico; ou ainda, se este objeto for maior que 2,5 cmx 6 cm, VOCÊ DEVE LEVÁ-LO AO PS.

*** IMPORTANTE ***

Importante! Porém cuidado.

Em regiões MUITO afastadas de hospitais ou na impossibilidade de realização de Endoscopia, nos casos de ingestão de baterias, pode-se realizar a administração de Mel (sempre para maiores de 1 ano de idade) ou Sulcrafato para evitar possíveis complicações.

Mas SEMPRE após a avaliação médica e esta conduta, não deve atrasar a realização de endoscopia.

5) Prevenção

Acidentes são acidentes.

Acontecem algumas vezes, por descuido.

Por esse motivo, muita atenção com as crianças pequenas. Sempre supervisione o seu filho e tenha cuidado na escolha de brinquedos.

Hoje já existem brinquedos com travas, justamente para evitar a retirada de baterias.

Mais do que isso, as empresas já estão produzindo baterias e até cartuchos de videogames com sabor amargo para que, caso a criança chegue a levá-los à boca, seja desencorajada a engoli-los.

Fonte: Olhar Digital
As fitas de Nintendo Switch são cobertas de Benzoato de Denatônio, componente amargo e não tóxico que impede a ingestão pelas crianças.
As fitas de Nintendo Switch são cobertas de Benzoato de Denatônio, componente amargo e não tóxico que impede a ingestão pelas crianças.
Fonte: http://www.arkade.com.br

Vamos cuidar dos nossos pequenos!

Por hoje é só!

Dúvidas ou sugestões? É so deixá-las abaixo.

Nos vemos no próximo mês.

Vejo vocês lá.

Dr Vinícius F. Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixe a nossa família cuidar da sua

Fontes:

1) Ingestão de Corpos Estranhos- Departamento Científico de Gastroenterologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Abril de 2022

Qual é o tempo certo para clampear o cordão umbilical?

Olá, tudo bem com vocês? Espero que sim!

Cá estou novamente para responder a mais essa pergunta.

Antes disso, gostaria de falar sobre a Consulta Pré-Natal com o Pediatra e/ou Neonatologista.

Muito recorrente em alguns centros, mas pouco conhecida ou falada aqui, no local em que trabalho e resido.

É incrível que muitas pessoas não sabem que existe ou deveria existir alguém para receber o seu bebê após o nascimento. E que, conhecê-lo antes do parto, poderia ser mágico.

Todas as suas dúvidas e anseios poderiam ser respondidos e discutidos, como por exemplo: “qual é o tempo certo para clampear o cordão umbilical do seu bebê”.

É importante pontuar que para entrarmos a fundo na questão, é imprescindível que dividamos os bebês em dois grupos: Prematuros (menores que 34 semanas) dos Prematuros tardios (maiores que 34 semanas) e Recém-nascidos Termo.

  • Prematuros (menores que 34 semanas)

“…o clampeamento tardio do cordão umbilical (com mais de 30 segundos)…demonstrou redução da mortalidade, redução das taxas de hemorragia intracraniana, melhor estabilização da pressão arterial e menor necessidade de transfusões…”

No caso dos prematuros nascidos em boas condições, com choro forte e bom tônus, o tempo mínimo de clampeamento deveria ser de 30 segundos até a 60 segundos (1 minuto).

Um estudo de revisão da Cochrane, que incluiu mais de 4.000 prematuros e que, comparou os recém-nascidos que tiveram o clampeamento tardio do cordão umbilical (com mais de 30 segundos) com aqueles que não tiveram essa oportunidade, demonstrou redução da mortalidade, redução das taxas de hemorragia intracraniana, melhor estabilização da pressão arterial e menor necessidade de transfusões durante a internação naqueles incluídos no primeiro grupo.

E a ordenha do cordão umbilical?

Não há estudos com boa metodologia, até o momento, comparando o clampeamento precoce com a ordenha do cordão (manobra para tentar deslocar mais sangue do cordão para o bebê) para se dizer qual seria a melhor alternativa neste cenário, entretanto já existem estudos demonstrando o aumento de hemorragia intracraniana em bebês prematuros extremos (com menos de 28 semanas) que foram submetidos a manobra de ordenha ao nascer.

  • Prematuros tardios (maiores que 34 semanas) e Recém-nascidos termo

“…se o bebê termo apresentou um clampeamento precoce (com menos de um minuto de vida), a reposição de ferro deveria começar já nos 3 primeiros meses de vida e que aquilo seria um fator de risco para anemia futuramente.”

Semelhante ao primeiro grupo, este aqui num cenário de nascimento em boas condições (choro forte e bom tônus), deveria-se realizar o clampeamento do cordão umbilical entre 1 a 3 minutos.

Apenas isso, pode afetar na hemoglobina do recém-nascido já nas primeiras horas de vida e garantir um nível de ferritina (estoque de ferro) adequado para os próximos 3-6 meses.

Neste ponto, gostaria também de realizar uma pausa…

A atualização do Consenso de Anemia Ferropriva em Pediatria, em Agosto de 2021, pela Sociedade de Pediatria (SBP) incluiu o tempo de clampeamento do cordão umbilical como fator de risco para anemia.

Nele é pontuado que, se o bebê termo apresentou um clampeamento precoce (com menos de um minuto de vida), a reposição de ferro deveria começar já nos 3 primeiros meses de vida e que aquilo seria um fator de risco para anemia futuramente.

Veja como, o simples ato de aguardar um minuto, pode afetar o seu bebê nos próximos meses e como discutir isso com o seu Pediatra pode ser benéfico.

No entanto, como nem tudo são flores, bebês com mais hemoglobina também tem mais risco de icterícia (amarelão) e devem ser acompanhados de perto durante os primeiros dias de vida.

No que tange a ordenha do cordão umbilical, neste grupo de bebês, as evidências são insuficientes para tal recomendação, independentemente das condições de nascimento.

Para os bebês que não choram ao nascer, a recomendação é que seja feito o estímulo tátil no dorso (costas do bebê) em até duas ocasiões e caso não haja resposta, que seja feito o clampeamento precoce para o início das manobras de reanimação e estabilização pelo Pediatra.

Tudo que está descrito aqui acima foi baseado em uma Diretriz realizada em conjunto pela SBP e pela FEBRASGO (Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e publicada em Março deste ano, deixo o link abaixo.

Mais do que conhecer as recomendações é imprescindível que você as discuta (no bom sentido) com a equipe que fará o seu parto antes dele acontecer.

Todos sairão ganhando com isso, mas, principalmente, o seu bebê!

Espero ter respondido a mais essa.

Dúvidas ou sugestões? É só deixá-las abaixo.

Nos vemos em breve.

Até lá!

Dr Vinícius F. Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixe a nossa família cuidar da sua

Fontes:

1- Diretriz- Recomendações sobre o Clampeamento do Cordão Umbilical- Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e FEBRASGO (Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia)- 17 de Março de 2022. Link: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/23396c-Diretrizes-Recom_Clamp_CordUmb.pdf

2- CONSENSO SOBRE ANEMIA FERROPRIVA: ATUALIZAÇÃO: DESTAQUES 2021- Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)- Departamento de Nutrologia e Hematologia- atualizado 26/08/21. Link: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/23172c-Diretrizes-Consenso_sobre_Anemia_Ferropriva.pdf

Tudo o que você precisa saber sobre o Coronavirus nas crianças

Olá, tudo bem com vocês? Espero que sim!

Hoje eu vou falar sobre tudo o que você tem curiosidade de saber sobre o Coronavirus envolvendo as crianças.

Bora lá?

1. As crianças pegam COVID?

A resposta é SIM! As crianças têm a mesma chance de adquirir a doença assim como os adultos.

Inclusive, elas também transmitem-na da mesma forma.

O que acontece é que pelo fato das crianças muitas vezes não apresentarem sintomas e/ou apresentarem sintomas mais leves, o número real de afetados pode ser subestimado. Além de muitas vezes elas não serem testadas.

2. Quais são os sintomas da COVID-19 em crianças?

Nos últimos estudos, foi estimado um tempo médio de incubação de cerca de 5 dias após o contato com alguém doente.

Os principais sintomas são gripais como febre, tosse, congestão nasal, coriza, dor de garganta, mas também podem haver sintomas mais graves como cansaço, chiado (sibilos) e pneumonia.

IMPORTANTE: os sintomas gastrointestinais, como vômitos e diarreia, são mais comuns nas crianças do que nos adultos.

3. Quais são os testes disponíveis?

Existem muitos tipos, mas vou destacar aqui os 3 principais:

  • RT-PCR: É o exame padrão-ouro para o diagnóstico da COVID-19. Realizado com cotonete (swab) da naso e orofaringe (nariz e boca) ou a partir da saliva- o que reduz a sensibilidade do teste. Pode ser colhido do 3º ao 10º dia de sintomas e pode demorar dias para o resultado final.
  • Teste Rápido de Antígeno: Exame colhido de nasofaringe, apenas. Tem um sensibilidade menor que o RT-PCR. Pode ser colhido até o quinto dia de sintomas, embora seja melhor entre o 3º ou 4º dia. O resultado costuma sair em horas.
  • Sorologia: Também conhecido como IgM e IgG. É um exame de sangue destinado ao diagnóstico retroativo, ou seja, para saber se você já teve COVID e não propriamente para o diagnóstico. O melhor momento para fazê-lo seria a partir da segunda semana do contato, idealmente a partir de 10 dias.

A ótima notícia é que a Anvisa acaba de liberar o “autoteste”. Exame que poderá ser comprado em farmácias e ser feito em casa.

De sensibilidade menor, o exame não substitui os anteriores, mas servirá para desafogar a demanda por testes, os quais estão escassos…

Entretanto, ele ajudará na identificação, isolamento das pessoas doentes e, assim, prevenindo a transmissão da doença.

4. As crianças precisam fazer o teste?

Depende!

Se a criança teve contato com pessoas que testaram positivo para a COVID-19, principalmente, pessoas do convívio, como os pais e irmãos, há uma grande chance dela também ter adquirido a doença, sendo neste caso, dispensável a coleta do exame.

5. Se meu filho testar positivo, o que devo fazer?

A primeira medida é CALMA!

Sim, estamos vivenciando um período de aumento do número de casos de COVID em crianças.

Com mais crianças acometidas, mais casos graves são documentados, naturalmente. Mas não podemos nos esquecer, que apesar disso, uma parte considerável das crianças terão formas leves ou assintomáticas da doença.

NOTA IMPORTANTE: NÃO EXISTE TRATAMENTO ESPECÍFICO CONTRA A COVID-19 LIBERADO PARA AS CRIANÇAS.

Portanto, o tratamento é exclusivamente de SUPORTE. Com antitérmicos, hidratação e repouso. Bem como realizamos há anos para a maioria das infecções virais, como a Dengue.

O uso de antibióticos está destinado apenas para crianças que apresentem infecções bacterianas associadas, como otites ou pneumonias.

Não acredite em fórmulas mágicas para o tratamento da COVID.

Nem utilize o mesmo tratamento de outra criança que conhece para o seu filho. O caso dele, não necessariamente, será igual ao de outro.

6. As aulas estão voltando. Eu deixo me filho ir para a Escola?

Este é um tema bastante polêmico.

A Sociedade Brasileira de Pediatria é fortemente favorável ao retorno às aulas em virtude da imensa perda social que tivemos nestes últimos anos de isolamento.

Pesa-se, no entanto, que o Brasil por ser um país muito heterogêneo possui particularidades que devem ser consideradas quanto a uma recomendação universal e irrestrita.

As escolas devem estar preparadas para receber as crianças em um ambiente seguro, evitando aglomerações, respeitando o distanciamento social, realizando a limpeza de superfícies recorrentemente, disponibilizando álcool em gel, exigindo o uso de máscaras e orientando os pequenos.

Os pais devem conversar com seus filhos e orientá-los, incentivando o uso de máscaras e a higiene das mãos.

A qualquer suspeita de COVID ou contato com pessoa doente, a criança deve realizar isolamento social e não frequentar a escola até passado o período de isolamento ou até ser descartada a doença.

7. Quanto tempo uma pessoa deve seguir isolada?

As recomendações mudaram recentemente.

O Ministério da Saúde orienta que caso a pessoa que adquiriu a doença esteja assintomática há 24h, sem febre e sem uso de medicações e que teste negativa por RT-PCR ou Teste de Antígenos no 5º dia do quadro (sendo o dia 1 o primeiro dia dos sintomas), ela poderá sair do isolamento social. Respeitando as medidas do Quadro 2 abaixo.

Caso ela fique assintomática no 7 dia da doenca, ela também poderá sair do isolamento SEM TESTAGEM. Caso permaneça sintomática, ela deve testar no 8º dia, se o resultado do teste for negativo ela poderá sair do isolamento respeitando as medidas do Quadro 2 abaixo. Se o resultado for positivo, ela deverá completar 10 dias de isolamento social.

Por fim, se ela ficar assintomática apenas no 10º dia, ela também poderá sair do isolamento social respeitando as medidas do Quadro 2 abaixo, SEM TESTAGEM.

8. Quero vacinar meu filho. As vacinas são seguras? Quem pode tomar as vacinas e quais estão disponíveis?

Todas as vacinas testadas já estão indo para a Fase IV (quer entender mais sobre isso? Confira a postagem sobre as vacinas em: https://clinicagoncalves.com/2021/02/06/estou-amamentando-posso-tomar-a-vacina-contra-o-coronavirus-e-meu-filho/ ), também chamada de Farmacovigilância, momento em que milhões de doses são aplicadas na população e são estudados os seus possíveis eventos adversos.

Importante destacar, que é justamente nesta Fase que a minoria dos eventos adversos são apontados.

Apenas nos Estados Unidos, mais de 7 milhões de doses da Vacina Pfizer foram aplicadas em crianças e a imensa maioria dos eventos adversos foram classificados como leves, como dor no local da aplicação, febre ou mal-estar.

Um dos principais medos dos pais, a miocardite após a vacina, foi documentada em apenas OITO CASOS e, em todos eles, a evolução clinica foi favorável (não ocorreu óbito).

No entanto, gosto de destacar que a miocardite, normalmente, é causa da por vírus comuns de resfriado… A infecção pelo SARS-Cov-2, vírus que causa a COVID, traz cerca de 20 vezes mais chance de miocardite do que a vacina.

A infecção pelo SARS-Cov-2, vírus que causa a COVID, traz cerca de 20 vezes mais chance de miocardite

A vacina Coronavac, por sua vez, já foi testada em mais de 3 milhões de crianças de 6-11 anos no Chile e mais de 211 milhões de crianças de 3-17 anos na China. Os estudos mostram que houve apenas 0,01% de eventos adversos e que, na sua imensa maioria, eram leves.

No Brasil, dispomos atualmente as duas vacinas citadas anteriormente:

Pfizer-BioNTech: Para crianças de 5-11 anos. Dose 10 microgramas (1/3 da dose dos adultos). Frasco de cor laranja. Intervalo de 8 semanas entre as doses- em estudo para o encurtamento deste tempo. Para adolescentes acima de 12 anos, a dose será igual a dos adultos, assim como o frasco de cor roxa. Intervalo de, pelo menos, 21 dias entre as doses.

Coronavac-Sinovac: Para crianças de 6-17 anos. Doses de 3 microgramas e intervalo de 28 dias entre as doses, o mesmo utilizado na população adulta. Em estudo para a inclusão de crianças menores (acima de 3 anos).

Por fim, deixo aqui o meu apelo e a minha sugestão de que vacinem os seus filhos.

Como venho insistindo nos meus canais, vacinar é um ato de amor.

Um ato de amor com o seu filho e com o próximo.

Apesar de, como falei anteriormente, muitas crianças serem assintomáticas ou apresentarem quadros leves, a COVID pode causar complicações tardias gravíssimas, como a própria miocardite, a COVID longa e a doença inflamatória multissistêmica pediátrica.

Tivemos 2.500 mortes de crianças pela COVID e suas complicações que poderiam ter sido evitadas pela vacinação.

Ainda, como as crianças são o atual grupo vulnerável, em virtude da não vacinação e da alta transmissibilidade da variante Ômicron, são justamente elas que devemos priorizar.

Quanto mais pessoas vacinadas, menor a circulação, transmissão e propagação do vírus! Mais cedo sairemos dessa!

Jamais se esqueçam: VACINAS SALVAM VIDAS!!!

Dúvidas ou sugestões? É só deixá-las abaixo.

Até a próxima!

Dr Vinícius F. Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixe a nossa família cuidar da sua

Fontes:

  1. SBP- Vacina Covid- https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/o-brasil-deve-temer-a-doenca-nunca-o-remedio-1/
  2. SBP- Volta às aulas- https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/SBP-RECOMENDACOES-RETORNO-AULAS-final.pdf
  3. SBP- Orientações a Respeito da Infecção pelo SARS-CoV-2- https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/Covid-19-Pais-DC-Infecto-DS__Rosely_Alves_Sobral_-convertido.pdf
  4. SBP- Criança precisa fazer exames de COVID?- https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/crianca-precisa-fazer-exame-da-covid-19-especialistas-explicam-quando-e-necessario/
  5. SBP- COVID – 19: Protocolo de Diagnóstico e Tratamento em Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica- https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22487d-NA_-_COVID-_Protoc_de_Diag_Trat_em_UTI_Pediatrica.pdf

O medo da febre

Olá!

Tudo bem com vocês?

Hoje vou falar sobre um tema que deixa todos os pais de cabelo em pé: a febre nos pequenos.

  1. O que é febre?

A febre é uma reação do nosso corpo a uma agressão que pode ser física, química ou biológica.

Quando estamos com febre, o aumento da temperatura corpórea faz com a nossa resposta imune seja aumentada, acelerando as reações enzimáticas e, por fim, as nossas defesas.

Gosto de fazer um paralelo a um acelerador de um carro. Quanto mais a gente pisa no pedal do acelerador, mais o motor responde e mais velocidade o carro adquire.

No entanto, existe um ponto ótimo, que se ultrapassado, o carro não adquirirá mais velocidade e só trará mais desgaste ao motor, aumentando seu consumo e , veja só, a sua temperatura por conseguinte.

2. A partir de que valor eu posso considerar que meu filho está com febre?

Primeiro é importante pontuar que o corpo sofre alterações de temperatura ao longo do dia.

Na madrugada e pela manhã, a temperatura corpórea é menor, podendo variar cerca de até 1ºC em relação ao final da tarde.

A atividade física, o uso de muitas roupas e a pouca ventilação no ambiente também pode influenciar neste valores.

A temperatura axilar dita normal varia dos 36,5ºC até 37,2ºC.

Consideramos febre, portanto, a temperatura axilar maior que 37,8ºC ou a temperatura retal acima de 38ºC.

3. Posso considerar febre só medindo a temperatura com as mãos?

Dois estudos ( Bancoe Veltri e Eyzaguirre et al.) demonstraram que SIM, as mães quando mediam a temperatura de seus filhos com as mãos diagnosticavam a febre precisamente.

Entretanto, é importante aferir e documentar os picos febris dos pequenos, com o uso do termômetro, para ajudar na investigação de um possível quadro infeccioso pelo médico.

4. E os termômetros de infravermelho? Eles são confiáveis?

Como dito acima, cada parte do corpo possui um temperatura considerada “normal”.

A temperatura da boca e do tímpano são aproximadamente 0,5ºC mais elevadas do que a axilar. Esta por sua vez, é chega a ter 0,8 a 1,0ºC de diferença da temperatura retal.

Então todo cuidado é pouco com os novos dispositivos.

Na dúvida meça mais de uma vez, ou melhor ainda, recorra ao bom e velho termômetro axilar.

5. Acho que estou entendendo!!! Então, se meu filho apresentar temperatura acima de 37,8ºC, isto significa que ele está com febre e então eu devo medicá-lo o quanto antes?

A resposta é um categórico NÃO!

Vamos nos lembrar que a febre é um mecanismo do corpo para ajudar na nossa defesa.

Desta forma não existe um número mágico para o uso do anti-térmico.

Antes disso, você pode desagasalhá-lo, ofertar líquidos (leite materno, água, chás e sucos), levá-lo para um ambiente mais arejado, dar um banho morno nele e voltar a medir a temperatura após 30 minutos.

Muitas vezes, apenas isto já ajuda.

Além do que, se ele estiver com 37,8ºC e bem, ativo, brincando, não há motivo para preocupação.

Devemos medicar apenas se ele apresentar febre e algum desconforto associado.

6. Mas se ele ficar com febre alta, não corre o risco de convulsionar?

Neste ponto, existe um mantra que sempre repito: “convulsiona quem pode, não quem quer”.

Vou explicar!

A Convulsão Febril acontece em crianças com predisposição genética e dos 6 meses aos 5 anos de idade.

Geralmente existe uma história positiva de pais ou de irmãos com convulsão febril também.

E, mais importante do que a temperatura máxima atingida, é a velocidade de ascensão da temperatura.

Sendo assim, existem crianças com quase 40 graus de febre e que não convulsionam e aquelas que com 38ºC apresentam um episódio convulsivo devido à ascensão rápida da temperatura- não nos esqueçamos da predisposição genética.

7. Tá certo, doutor. Mas então após eu controlar a febre, devo ir direto para o Pronto-Socorro não é mesmo?

Depende!

Em crianças com mais de 3 meses é sempre razoável, aguardar por até 72 horas do primeiro pico febril para uma avaliação médica. Isso é claro, caso o quadro não seja acompanhado de alteração do estado geral, irritabilidade, sonolência, falta de apetite grave, cansaço..

É sempre importante pontuar que durante o episódio febril, a criança costuma ficar abatida, com a respiração mais rápida, com os batimentos do coração acelerados e que a melhora após o uso de anti-térmico é um bom sinal.

Como muitas vezes a febre está relacionada a um episódio infeccioso, é NORMAL a redução do apetite.

Muitas crianças aceitam apenas o leite materno ou comidas mais pastosas e em pouca quantidade; e está tudo bem. Vamos respeitar essa condição! Nós mesmos não nos alimentamos muito quando estamos doentes e isso não é diferente com a criança.

Entre 20-30% das consultas em pediatria nos Pronto-Socorros são por queixas relacionadas à febre. No entanto, se a criança não possui nenhum sinal de gravidade, é maior de 3 meses (com o calendário vacinal atualizado) e está apresentando febre há menos de 3 dias é possível aguardar em casa!

8. Mas por que você diz que se meu filho tem mais de 3 meses e só está com febre eu devo aguardar em casa e não ser avaliado por um médico prontamente?

Geralmente grande parte das doenças virais cursam com febre por 3 dias. Neste intervalo de tempo, os picos febris tendem a se afastar e a amenizar, o que indica que o corpo está dando conta da doença.

Além disso, antes de 3 dias, muitas vezes a criança não apresenta outros sintomas e no exame físico médico e até laboratorial não é possível identificar o motivo da febre.

Obviamente que existem exceções, doenças virais como o Exantema Súbito (Roséola), que cursam com febre alta e por mais tempo…

No entanto, insisto que se seu filho estiver bem, com febre e mais nenhum sinal de gravidade, que você aguarde cerca de 3 dias medicando-o em casa. Conduta que já era orientada por todo pediatra, mas que com a Pandemia atual se intensificou.

Por outro lado, se o seu filho for menor de 3 meses ou se apresentar algum sinal de gravidade leve-o prontamente para o seu pediatra.

Existem protocolos mundiais para a investigação da doença febril e, em crianças menores (menores de 3 meses) e/ou com sintomas de gravidade, o médico deverá ser mais incisivo na investigação nestes casos.

Já, as crianças maiores de 3 meses possuem uma imunidade maior e, inclusive, receberam vacinas contra grande parte das bactérias que podem causar doenças invasivas graves.

Por fim, vou parafrasear as orientações do Dr. Jayme Murahovschi, o Decálogo da criança febril:

  1. Se a criança está com febre e bem, há uma grande chance de se tratar de uma infecção viral (cerca de 90%). A cada nova infecção a criança cria imunidade (anticorpos) e é por isso que quanto mais velha a criança, menos episódios febris. O corpo vai se especializando com o tempo e se tornando cada vez mais eficaz no combate às infecções. Caso seu filho persista com febre, há uma chance de ser uma infecção bacterina não grave (otite, amigdalite) que se resolverá com o antibiótico adequado após 48-72h.

2. Utilize roupas leves, ambiente ventilado. Evite exposição solar exagerada e deixa a criança o “mais livre possível”.

3. Ofereça líquidos com frequência.

4. É normal a redução do apetite num episódio infeccioso. Seja mais tolerante se seu filho não quiser comer tanto. Tente ofertar aquilo que o agrada mais, evitando as guloseimas.

5. A febre é um mecanismo de defesa. Tenha tranquilidade.

6. Dessa forma pondere o uso do antitérmico. Não é necessário ficar medicando de horário, exceto se seu filho apresentar sintomas associados à febre. Se ele estiver bem e brincando, tente as medidas não farmacológicas.

7. É importante aferir a febre e os picos febris. Mas não é necessário fazer essa mensuração constantemente, logo após a tomada do antitérmico, por exemplo.

8. Opte por aquela medicação que a criança tolera melhor. Evite hipermedicar e associar vários antitérmicos ao mesmo tempo. O intervalo de ação deles é de 4-6h e dos anti-inflamatórios de até 8-12h, tendo início de ação cerca de 1h após a ingesta.

9. Banho e compressas são aceitáveis, quando isso for do agrado da criança e não trouxer transtornos para a família. Sempre mornos, nunca frios.

10. Observe os sinais de alerta: febre acima de 39,4 ºC com tremores de frio, abatimento acentuado ou forte indisposição (sonolência e irritabilidade, choro inconsolável ou choramingas, gemência) que não melhoram após o efeito da dose de antitérmico; aparecimento de sintomas diferentes; febre que ultrapassa três dias completos. A consulta médica nestes casos é insubstituível.

Bem, por hoje é só.

Nos vemos em breve. Até lá!

Dr Vinícius F. Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixe a nossa família cuidar da sua.

Fontes:

Febre: Cuidado com a Febrefobia– Sociedade Brasileira de Pediatria- link: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/cuidados-com-a-saude/febre-cuidado-com-a-febrefobia

A criança com febre no consultório– J. Pediatr. (Rio J.) vol.79  suppl.1 Porto Alegre May/June 2003- Link: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572003000700007