Olá, hoje falaremos sobre “Dor de Garganta”.
Antes de iniciarmos, vale a pena gastar algumas linhas falando um pouco sobre as Rinofaringites Virais ou sobre o Resfriado Comum.
O Resfriado Comum, como o nome já diz, é MUITO COMUM! Ainda mais nesta época do ano- do outono ao inverno.
Estudos demonstram que crianças pequenas podem ter em média de 6-8 episódios de Resfriados Comuns ao ano e, PASMEM, cerca de 10-15% delas podem chegar a ter até 12 resfriados/ano.
Lembrando que em média, os sintomas do Resfriado, como coriza, tosse, dor de garganta, obstrução nasal, espirros…- duram cerca de 7-10 dias, algumas vezes estendendo-se até a 14 dias, é possível que durante quase todos os meses do ano e por cerca de metade dos dias de cada mês, seu filho esteja Resfriado, e que isso seja ABSOLUTAMENTE NORMAL.
Vale destacar que, o fato da criança frequentar creche ou ter um irmão mais velho que frequenta e, o contato com o tabagismo passivo, favorece para que a criança tenha mais episódios de rinofaringites virais por ano.
Por outro lado, a partir do terceiro ano de vida é comum a melhora na incidência dos Resfriados. Para se ter ideia, um adulto tem em média cerca de 3 Resfriados ao ano.
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UFA! Depois deste textão, vocês devem estar se perguntando: ” Tá legal, Doutor. Mas porque você está falando tanto de resfriados, já que você ia falar sobre “Dor de Garganta”???
Justamente, por isso!!! Porque A MAIORIA dos episódios de “dor de garganta” são VIRAIS!!! Cerca de 75% dos casos.
Me intriga e entristece escutar dos pais, quando vêm ao consultório, que seus filhos, principalmente aqueles menores de 3 anos, já trataram VÁRIOS episódios de “dor de garganta” com antibiótico ou então a famosa frase: “ele só melhora do resfriado depois de tomar uma Benzetacil…”
Então a partir daqui vou fazer nosso famoso jogo dinâmico de perguntas e respostas tentando elucidar um pouco sobre a “dor de garganta”.
1) Quem causa a “dor de garganta” e por que você disse que é pouco provável que uma criança com menos de 3 anos tenha a doença?
A “dor de garganta” (amigdalite) que as pessoas costumam dizer é conhecida como Faringite Estreptocóccica, no meio médico. Ou seja, esse nome já indica o seu principal agente causador: o Estreptococo, que é uma bactéria.
Crianças menores de 3 anos, não costumam ter infecção por esse agente, pois não costumam ter receptor, nem carregá-lo em suas faringes (região entre a boca e garganta).
Geralmente, ela acomete crianças e adolescentes entre 5-15 anos de idade.
2) Como é possível fazer o diagnóstico, saber então se ela é viral ou bacteriana?
Destaco que a história clínica e os sintomas são primordiais.
FARINGITE VIRAL
Crianças- principalmente as menores de 3 anos de idade- que estejam apresentando febre (geralmente baixa e nos primeiros dias da doença), coriza, congestão nasal, tosse, espirros e “dor de garganta”, possivelmente estão com Faringite viral.
Os agentes possíveis são vários, como os que causam o Resfriado Comum: rinovírus, coronavírus, parainfluenza, vírus sincicial respiratório…
No exame, a garganta costuma estar avermelhada e inchada. Podem existir linfonodos (“ínguas”) palpáveis em todo pescoço.
A criança pode ter diminuição do apetite, abatimento e estar com muita saliva ou babando muito.
FARINGITE BACTERIANA (AMIGDALITE)
Esta possui uma história típica: febre ALTA, dor de cabeça, barriga e no corpo, mal-estar, vômitos, náuseas e “dor de garganta”.
Veja, que não costumam haver sintomas de Resfriado associados a ela como: coriza, tosse, espirros, obstrução, nasal…
Como já dito, ela costuma acometer crianças mais velhas e adolescentes, entre 5-15 anos de idade.
Ao exame, é comum notar a amígdala vermelha, inchada, com pus- algumas vezes não presente nos primeiros dias da doença- pintinhas no céu da boca e aumento dos gânglios (“ínguas”) no pescoço.
Além disso, alguns estabelecimentos possuem o teste rápido, o qual pode apontar se a infecção é bacteriana ou não.
Os exames de cultura, colhendo amostras da secreção da garganta, geralmente são dispensáveis, já que demoram alguns dias para identificação do agente causador e podem dar resultados falseados.
Os exames de sangue também dificilmente conseguem distinguir se a infecção é viral ou bacteriana.
O médico deve, portanto, associar a histórica clínica, a idade e o exame físico do paciente para diagnosticar corretamente o agente causador da doença.
3) Qual o tratamento?
Se estivermos diante de um infecção VIRAL, o tratamento é de suporte com o uso de analgésicos e anti-térmicos, hidratação e, em criança maiores, é possível a aplicação de soluções tópicas (“sprays”) com anestésicos locais para amenizar a dor.
No entanto, se o caso for de infecção BACTERIANA, aí sim o tratamento deve ser feito com antibióticos, geralmente as penicilinas.
A famosa Benzetacil- já em desuso devido à dor local na aplicação e a sua indisponibilidade no mercado- e a Amoxicilina. Em pacientes ALÉRGICOS o uso de outras classes de antibióticos é possível.
O Estreptoco NÃO tem resistência à Amoxicilina e este antibiótico ainda é o de escolha para as amigdalites.
Não se incomode se o tratamento de todo caso de amigdalite do seu filho for feito com a Amoxicilina, porque está realmente correto!!!
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VÁ AGORA TOMAR UM CAFÉ, ÁGUA E VOLTE DAQUI 5 MINUTOS OU ATÉ EM OUTRO DIA.
Eu sei que o texto está grande! Mas esta é uma parte crucial.
4) Qual o tempo de tratamento da Faringite Bacteriana (amigdalite)?
O tempo de tratamento deve ser feito por DEZ DIAS!!!
Mesmo que não seja iniciado o uso de antibiótico ou que se faça o seu uso de forma irregular, normalmente a criança apresenta melhora da “dor de garganta”.
No entanto, cerca de 3% das crianças podem ter complicações futuras gravíssimas de um tratamento feito de forma errada.
Apenas o uso pelo tempo correto pode ERRADICAR o Estreptococo da garganta da criança e evitar uma das principais complicações de uma faringite bacteriana não-tratada ou tratada de forma irregular, que é a FEBRE REUMÁTICA.
5) E o que é FEBRE REUMÁTICA???
A febre reumática é uma doença auto-imune, que tem como uma das suas complicações principais, a cardite reumática- doença do coração.
Ainda não se sabe exatamente porque apenas algumas pessoas desenvolvem essa complicação, mas sabe-se que elas já nascem com uma predisposição genética para a doença.
No entanto, ela costuma ocorrer após uma infecção de garganta ou de pele causada pelo Estreptococo, as quais não foram corretamente tratadas.
Sendo imperativo, portanto, que ao se diagnosticar a Faringite Bacteriana (amigdalite), os pais façam o tratamento correto, respeitando o antibiótico e tempos prescritos pelo médico, para que sejam evitadas tais complicações.
Então, por hoje é só!
Dúvidas ou sugestões?
É só deixá-las abaixo ou no página do Facebook da Clinica Gonçalves: https://www.facebook.com/clinicagoncalvessr/
Nos vemos em breve. Até lá!
Dr. Vinícius F.Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista
Créditos:
Imagens Retiradas da Internet
Vídeo- Canal Dr. Paulo Mendes Jr – Otorrino em Curitiba (acesso em 10/07/2019)
Vídeos explicando um pouco mais sobre o assunto: