
Olá, tudo bem com vocês? Espero que sim.
Depois de algum tempo sem postar, aqui estamos.
E desta vez, vim falar sobre uma doença que está acometendo muitas crianças, nesse momento, em todo Brasil, a síndrome ou doença mão-pé-boca (MPB).
- O que é a doença mão-pé-boca (MPB)?
Ela é uma doença viral, muito contagiosa, que costuma ter um período maior de circulação no Outono e no Verão, em países de clima temperado. Em países tropicais como o Brasil, ela pode circular o ano todo.
- Quem causa a doença?
A MPB foi relatada pela primeira vez em 1957 na Nova Zelândia e no Canadá.
Ela é causada por um grupo de vírus chamados de Enterovírus, dentre eles, os mais comuns são o EV71 (principalmente na Ásia) e o Coxsackie A16.
Importante pontuar que, atualmente, já foram descritos mais de 100 tipos de Enterovírus. Então muitas vezes, não conseguimos saber ou isolar o agente causal, a não ser em estudos clínicos e que, o isolamento, não muda o curso ou tratamento da doença.
- Aparentemente estamos vivemos um momento de “surto” de MPB no Brasil. Qual o motivo?
“Surto” de MPB é definido quando temos dois ou mais casos em um determinado local, como escola ou creche.
Ainda assim, é notório o aumento do número de casos de MPB nos últimos meses.
O possível motivo seria pelo amplo contato das crianças com a atual reabertura de escolas e creches, devido à Pandemia causada pelo Sars-Cov-2, após um longo período de isolamento social.
- Quais os sintomas da doença?
A síndrome pode iniciar com sintomas inespecíficos como febre alta e persistente, dor de garganta e redução da ingestão de alimentos.
Após alguns dias, podem surgir lesões ao redor da boca e/ou dentro da cavidade oral (úlceras/aftas na língua, gengiva e garganta), mãos e pés, não respeitando palmas e solas de pés- MARCA CARACTERÍSTICA DA DOENÇA, mas não exclusiva.
Podem surgir também lesões na região de face, orelhas, cotovelos, tornozelos, genitais e glúteos.
As lesões são ovaladas, como grãos-de-arroz, no corpo e ter característica de úlceras dentro da cavidade oral.
Na forma disseminada, podem surgir lesões vesico-bolhosas, principalmente nas extremidades.

Crianças que possuam doenças dermatológicas prévias, como a dermatite atópica (alérgica), podem apresentar uma forma mais exuberante, principalmente nas regiões já acometidas.
Foi descoberto também, que a gravidade e o número das lesões têm relação íntima com a quantidade de vírus que a criança foi exposta.
Complicações apesar de acontecerem, são mais raras, como meningites, meningoencefalites e/ou miocardites.
De 3 a 8 semanas após a infecção, pode haver o descolamento das unhas, chamado de onicomadese, e também a descamação de mãos e pés.
- Quais são as pessoas mais propensas a adquirir a doença?
A MPB costuma acometer crianças menores de 5 anos.
Embora possa acometer crianças mais velhas e adultos, raramente.
A manifestação em adultos tem íntima relação com a quantidade de vírus que ele entrou em contato.
- Como ela é transmitida?
Ela é transmitida pessoa a pessoa, direta ou indiretamente, por contato por secreções respiratórias (gotículas) e até pelas fezes.
O período de incubação ocorre entre 3-6 dias.
Após o início dos sintomas, o período máximo de transmissão ocorre na primeira semana da infecção. No entanto, pode haver transmissão por até 1-3 semanas.
Nas fezes pode haver transmissão por até 4 semanas.
- Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é essencialmente clínico, levando-se em conta a exposição a outra criança com a doença.
Existem exames como sorologias, culturas e PCR mas não são feitos habitualmente.
O hemograma e demais exames são inespecíficos para doença.
- Qual o tratamento?
Como ela é transmitida por um vírus, não há um tratamento específico, apenas sintomático.
Em casos graves, em que haja complicações e necessidade de internação, é indicado o uso de Imunoglobulina humana, embora não haja consenso.
O único antiviral testado, o Pleconaril, ainda não teve seu uso liberado. Vem sendo alvo de estudos para casos complicados, como os de meningite assépticas.
- Como pode ser feita a prevenção?
Após a confirmação de um caso, deve ser garantido o isolamento social por no mínimo sete dias- fase de maior transmissão.
Medidas de higiene devem ser intensificadas em berçários, especialmente após a troca de fraldas.
A desinfecção de superfícies, objetos e brinquedos deve ser realizada constantemente.
A China, em 2015, aprovou uma vacina contra o EV 71, para prevenção das formas graves de MPB. Não há, no entanto, experiências do uso da vacina fora deste país.
Espero ter elucidado as dúvidas de vocês.
Receamos que a retomada das atividades, após o longo período de isolamento social, possa ser um gatilho para emergência de vários surtos de doenças infectocontagiosas.
Vamos proteger os pequenos!
Ps.: CUIDADO! O OUTONO ESTÁ CHEGANDO- https://clinicagoncalves.com/2018/02/15/416/
Até a próxima,
Dr Vinícius F. Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista
CLÍNICA GONÇALVES- Deixe a nossa família cuidar da sua
Fontes:
- Síndrome Mão-Pé-Boca- Documento Científico da Sociedade Brasileira de Pediatria- Departamento Científico de Dermatologia e Departamento Científico de Infectologia- Setembro 2019