Meu filho está atrasado? – Desenvolvimento do nascimento aos 5 anos

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Olá, tudo bem com vocês? Espero que sim!

A consulta pediátrica engloba quatro tópicos importantes: a alimentação, as vacinas, o desenvolvimento pôndero-estatural (ganho de peso e altura) e o desenvolvimento neuropsicomotor.

Hoje falaremos sobre o desenvolvimento neuropsicomotor, ou em outras palavras, os marcos de desenvolvimento esperados nas crianças, do nascimento até os 5 anos de idade.

É importante citar, que esse desenvolvimento ocorre da cabeça aos pés e, do centro para as extremidades do corpo e é por isso que o bebê nasce hipotônico (molinho) e quase sem nenhum controle do corpo e, com o passar dos meses, vai ganhando mais tônus até que passa a segurar o pescoço, sentar, rolar, engatinhar e, por fim, a andar ao redor do primeiro ano de vida.



  • Do nascimento ao primeiro mês de vida

Ao nascimento, o bebê é bem hipotônico (molinho) e tem um padrão flexor, mantendo os braços e as pernas dobrados. As mãos costumam ficar constantemente fechadas.

Os reflexos primitivos estão presentes e ativos e vão desaparecendo nos próximos meses.

Dentre eles, vale citar:

  1. Reflexo de busca e pontos cardinais: ao estimular o lábio ou região próxima da boca com o dedo, o bebê inclina o rosto e leva o lábio até o ponto estimulado, simulando a procura ao seio materno. Desaparece nos primeiros meses de vida, sendo normal, até o quarto mês.

2. Reflexo de preensão palmar: ao colocar o dedo na palma da mão do bebê, ele fecha a mão e os dedos, agarrando-o de forma firme e sem soltar. Desaparece entre o quarto e o sexto mês de vida.

3. Reflexo de marcha: ao colocar o bebê de pé sobre um plano, ele troca pequenos passos de forma reflexa. Desaparece após o segundo mês de vida.

4. Reflexo tônico-cervical assimétrico ou do esgrimista: após deixar a cabeça do bebê neutra, virando-a para um dos lados fará com que ele estenda o braço para o lado que a cabeça está virada e flexione o outro, para a parte de trás da cabeça, assim como um esgrimista. Desaparece até o terceiro mês de vida.

5. Reflexo de Moro: após uma desaceleração, por exemplo, ao abaixar de forma rápida a cabeça do bebê, ou então, após um ruído, ele deve abrir os braços e depois flexioná-los ao centro do corpo. As mães costumam confundir esse reflexo como um susto ou até convulsão, mas é mais um dos reflexos naturais e esperados. Desaparece até o sexto mês de vida.

6. Reflexo de preensão plantar: ao apoiar um dos dedos na planta do pé do bebê, os dedos do pés se fecham e o pezinho realiza flexão. Desaparece até o nono mês de vida.

7. Reflexo cutâneo-plantar: após realizar o reflexo anterior, se um estímulo for realizado do calcanhar a ponta do pé do bebê (de baixo para cima) e na sua parte mais externa, os dedos devem se abrir  “em leque”. Desaparece até os 12 meses de vida, podendo persistir de forma incompleta até os 15 meses.  

A audição é boa e o bebê reage aos sons do ambiente, podendo emitir pequenos grunhidos ou sons guturais.

A visão ainda é muito rudimentar. A criança enxerga tudo muito embaçado, sem definição de cores ou formas. Reconhece claro e escuro e começa a seguir objetos ao final do primeiro mês de vida.

Não possui padrão de sono, podendo passar várias horas do dia dormindo e acordar apenas para mamar. Não consegue distinguir dia e noite.



  • Do segundo ao terceiro mês de vida

A partir do segundo mês de vida, o bebê começa a ficar mais desperto, passando mais horas por dia acordado.

Ele começa a seguir objetos com a visão, dando preferência ao rosto humano.

É justamente nesta fase, em que a visão começa a melhorar, que a criança começa a ter o sorriso social, emitindo um sorriso quando vê o rosto dos pais.

Além de emitir balbucios ( “gu”, “gugu”, “angu”) e ficar extremamente feliz e agitada, mexendo braços e pernas simetricamente, nesta troca de olhares e carinho.

O sustento do pescoço começa a ficar melhor ao final dessa fase e a criança começa a ter o controle das mãos, pegando objetos e levando-os à boca, sem ainda ter domínio completo sobre o movimento.  

O sono começa a ficar mais regular, devido à produção de melatonina, bem como a definição de noite e dia (ciclo circadiano).



  • Do quarto ao sexto mês de vida

Devido ao bom controle do pescoço e à melhora da visão, com o reconhecimento de cores iniciado a partir do terceiro mês de vida, ficar deitado deixa de ser interessante para o bebê.

A criança prefere ficar no colo e/ou sentada com apoio nas costas, iniciando assim o movimento de sentar. O controle da coluna lombar e do quadril no entanto, ainda não são bons, o que pode fazer com que a criança se sustente poucos minutos nesta posição, sem o apoio adequado, ou ainda, cair para frente e/ou para os lados.

Todos os sons e atividades na casa passam a chamar a atenção e a serem interessantes. A mamada, que antes era fácil, agora pode ser intercortada por um mínimo barulho no ambiente.

Vai se adquirindo cada vez mais o controle das mãos, somado à perda do Reflexo de Preensão Palmar.

A criança nessa fase, começa a levar as mãos e objetos à boca, a balbuciar e a gritar bastante, as glândulas salivares aumentam a sua produção, o que torna comum o excesso de saliva (“babação”).

Além disso, ela pode começar o movimento de rolar com a ajuda dos braços, embora haja pouco controle do quadril, resultando num semi-giro ou rotação em 180 graus. Algumas crianças já conseguem pegar os pés e levam-nos à boca.

De barriga para baixo, o controle do pescoço já é bom, sustentando a cabeça nessa posição. Os braços estendidos à frente, vão pouco a pouco perdendo o contato do cotovelo com o plano, ao final desta fase.



  • Do sexto ao nono mês de vida

O controle da coluna lombar, quadril e pernas vai se aprimorando, fazendo com que ao longo dessa fase, a criança comece a sentar, inicialmente, com o apoio das mãos à frente e, posteriormente, sem apoio algum.

Ainda, ao mínimo desequilíbrio para os lados, devido ao bom controle das mãos, a criança passa a se sustentar caso escorregue. O mesmo não costuma acontecer, caso ela se desequilibre para trás.

Os objetos passam a ser passados e transferidos de uma mão à outra, sem nenhum tipo de preferência (não é possível saber se ela será destra ou canhota, ainda) e acabam sempre indo à boca.

A audição começa a melhorar e inicia-se a distinção de sons graves, de agudos.

A visão desenvolvida e, de forma associada à audição, começa a fazer com que a criança reconheça e estranhe pessoas que não são de seu vínculo social.

O rolamento, ao final desta fase, já deve ocorrer naturalmente. A criança começa a se posicionar com os braços estendidos e pernas flexionadas (apoio de quatro membros) e transicionar desta posição para a sentada, facilmente. Algumas já engatinham ou se arrastam.

Da parte da fala, após a emissão de algumas sílabas (“ma”, “pa”,”ga”), inicia-se o processo de junção de sílabas, a lalação.



  • Do nono mês ao primeiro ano de vida

Nesta fase, grande parte das crianças já engatinham ou se arrastam. Após atingirem o seu objetivo, elas se apoiam e tentam ficar de pé com apoio.

Com a ajuda de alguém ou apoiadas, iniciam a marcha lateral (andam para os lados), para só depois se arriscarem e tentarem os primeiros passos para frente, momento em que as quedas são frequentes.

Iniciam o movimento de pinça, com o dedo polegar e o indicador, e começam a pegar pequenos objetos com os dedos.

Momento de redobrar a atenção com as quedas, com as quinas de móveis, com as gavetas e móveis baixos que contenham objetos cortantes, materiais de limpeza e produtos tóxicos; além do cuidados com as tomadas.

Nesta fase, também, continuam a se assustar com estranhos e apresentam um vínculo cada vez maior com os familiares e, em especial, com a mãe.

Após a lalação (“dada”, “mama”, “papa”), podem começar a implicar algum significado a essas primeiras palavras.

Já é possível a compreensão de alguns comandos e a reação a ordens. Além de fazer pequenos gestos com as mãos como: “tchau”, “vem”, “bater palmas” ou “mandar beijo”.



  • Do primeiro ano aos 18 meses de vida

Aqui destacam-se a fala e a marcha (andar).

A criança começa a falar uma ou duas palavras até atingir um repertório de 50 palavras, em média, ao final desta fase.

Ela costuma a repetir as palavras que ouve no seu dia-a-dia e deve falar nomes ou sons de animais, nome de familiares e alimentos. O uso de chupeta e telas (celulares, computadores, tablets e televisão) é extremamente prejudicial a esse processo de aprendizado.

No começo, costuma a andar com as pernas bem abertas, com a base alargada (como cowboy) para buscar equilíbrio. Como dito, as quedas são frequentes.

Posteriormente, já anda melhor e começa a se aventurar pela casa, subindo degraus arrastando-se ou com apoio, além de tentar escalar móveis. Monta uma torre com dois cubos.

Já consegue retirar peças de roupa, sem ajuda dos pais, além de levar o alimento à boca.

Vínculo grande com a mãe.



  • Dos 18 aos 24 meses de vida

Nesta fase, o vocabulário da criança se expande de 50 para cerca de 200 palavras.

Além de nomes de animais, algumas crianças começam a falar o nome de uma ou de duas cores e começam a contar e a saber alguns números, sem ordem.

Ocorre a junção de duas palavras como: “me dá” ou “qué aguá” (quero água).

A criança já deve andar bem e começa a correr, além começar a subir degraus de pé com apoio. Consegue montar uma torre com quatro a seis cubos.

Apesar do grande vínculo materno, ao final dessa fase a criança começa a criar uma certa independência.



  • Dois anos de vida

Além do aumento expressivo do vocabulário, inicia-se a formação de frases curtas.

A criança já adquire independência dos pais e começa a explorar outros ambientes sozinha. Sobe e desce escadas sem ajuda, mas com apoio. Faz torre com cerca de oito blocos. Conseguem contar de 1 a 10, com falhas.

Já passa a brincar com outras crianças e a dividir brinquedos com amigos.

Além de possuir a noção da totalidade corporal, ou seja, sentir-se no seu corpo e de nomear partes dele. O que pode resultar num comportamento “egóico”. Usando pronomes como “meu”, “minha” e “eu” e portanto, tudo é “MEU”.

Algumas crianças já começam a ter controle esfincteriano e começam a reclamar das fraldas sujas, querendo tirá-las. Além de reconhecer o xixi e o cocô. O desfralde costuma acontecer entre o segundo e o quarto ano de vida- falamos disso neste post: https://clinicagoncalves.com/2020/07/17/esta-na-hora/.

Inicia-se o reconhecimento de gênero e a habilidade de identificar meninos e meninas.

A lateralidade começa a se definir, mas só teremos a certeza que a criança será destra ou canhota em torno dos 6-7 anos de vida.

Começam a ter um controle manual melhor e a segurar de uma forma mais firme o lápis (posição pronada). Desenham rabiscos e, ao final dessa fase, desenhos em espiral (garatujas) e círculos, podendo atribuir significados aos desenhos.

Conseguem também sair do chão pulando com os dois pés juntos.



  • Três anos de vida

Neste momento, a criança já forma frases mais complexas e se comunica bem.

Consegue contar histórias, expressar suas preferências pessoais e cantar. Sabe seu nome e idade.

Forma pontes, casas e estruturas mais complexas com blocos, além de associar uma história à montagem, brincando de faz-de-conta.

Consegue a segurar o lápis com uma pinça de quatro dedos (preensão quadrípode).

Começa a desenhar círculos e formas geométricas e a atribuir significados a eles, puxando tracinhos para a formação de um corpo humano, que pode ser algum ente querido (mãe ou pai), ou animal. Pode também atribuir cores a eles, por exemplo: “o vermelho é a mamãe e o azul é o papai”.

Já sobe e desce escadas sozinha e sem apoio, além de conseguir pedalar um velocípede.

Início da noção de tempo (ontem, hoje e amanhã).



  • Quatro anos de vida

Fala bem e sabe usar o tempo no passado.

Começa a entender melhor conceitos e consegue explicar palavras, além de agrupar objetos semelhantes num mesmo grupo (animais, frutas…).

Conta histórias e demonstras preferências, sem distinguir fantasia de realidade.

Apresenta habilidade motora aperfeiçoada. Transição da pinça quadrípode (com quatros dedos) para a trípode (com três dedos, semelhante a de um adulto), ao segurar o lápis e melhora no traço e ao desenhar formas geométricas.

Consegue pular num pé só.

A gagueira pode ser normal até essa idade.



  • Cinco anos de vida

Nesta fase, a criança fala bem, forma frases complexas, expressa sentimentos, começa a diferenciar fantasia de realidade e a usar o tempo futuro.

Limite esperado para a troca de letras ao falar (por exemplo, trocar “R” por “L”).

A habilidade motora está bem desenvolvida. A criança consegue fazer traços mais coesos e formas geométricas bem definidas. Começa a demonstrar a mão de preferência, a qual será definida ao redor do sexto ou sétimo ano de vida.

Pula num pé só e consegue alternar os pés ao saltar. Além de saltar distâncias maiores.

Começa a formação de censura, ou seja, diferenciar o certo do errado.

Agrupa-se com crianças do mesmo sexo e apresenta momentos de simpatia e antipatia pelo sexo oposto.

Inicia a sua identidade de gênero.

A partir do sexto ano, começamos a avaliar as habilidades motoras, sociais e cognitivas com o acompanhamento escolar, principalmente.

Espero ter elucidado as dúvidas de vocês!

Lembrando que existem variações de criança a criança e que apesar de ter delimitado limites de tempo/idade, eles não são fixos.

Acompanhe o desenvolvimento do seu filho junto do seu pediatra.

Até a próxima,

Dr Vinícius F. Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES- Deixe a nossa família cuidar da sua



Fontes:

 FA, Campos Jr. D. Tratado de PediatriaSociedade Brasileira de Pediatria – 4ª Ed – Editora Manole – 2017

 Bueno, J. M. Psicomotricidade: teoria e prática- da escola à aquática. 1ed. São Paulo: Cortez,2013.

Prado, Cristiane do / Vale, Luciana Assis PRADOCristiane Do; VALE, Luciana Assis. Fisioterapia neonatal e pediátrica. 1 ed. Barueri: Manole, 2012

Imagem 1: https://www.guiadebemestar.com.br/brinquedos-montessori/- Em 30/09/2021

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