Olá! O assunto da semana de hoje será a “Cólica do Lactente”, distúrbio que deixa mães e bebês de cabelo em pé.
Vamos entender um pouco mais sobre ele?
1) O que é “Cólica do Lactente”?
Costumo frisar sempre para os pais que a “Cólica do Lactente” é um distúrbio BENIGNO e TEMPORÁRIO que costuma afetar bebês a partir dos 15 dias de vida até os 3 meses de idade.
2) Porque ele acontece?
O motivo é multifatorial, mas costumo destacar 3 grandes causas: os gases e a dificuldade em digerir o leite, a microbiota intestinal em formação e a dismotilidade intestinal. Esse tripé de causas será a base do tratamento das cólicas.
3) Como sei que o meu bebê tem “Cólica do Lactente”? Como faço o diagnóstico?
O diagnóstico é CLÍNICO. Devemos antes excluir outros motivos de choro:
Ou seja, será que o bebê não está com fome, com gases, irritado, com sono, com a fralda cheia, com os dentes em erupção, solto física ou emocionalmente? Antes de dizer que é cólica, devemos excluir isso tudo.
Veja o vídeo a seguir, que mostra um “truque” para tentar acalmar seu bebê, se o caso dele não for de cólica:
Excluídas outras causas de choro, a “Cólica do Lactente” é provável e deve seguir a famosa regra dos 3:
- 3 horas de choro diários
- Por , pelo menos, 3 vezes na semana
- Durante 3 semanas
4) Tá certo, meu bebê tem a famigerada “Cólica do Lactente” . Como eu consigo tratá-la?
Insisto em dizer que a “Cólica do Lactente” é um distúrbio BENIGNO e TEMPORÁRIO, visto que, nenhum tratamento é 100% eficaz e que a única coisa que parece findá-lo é justamente o tempo- ou seja, o passar dos 3 meses.
Ainda, que cada criança responde de um jeito diferente e parece “preferir” um tratamento ao outro.
Além do que, costumo dizer que as próprias mães e os pais vão começar a entender melhor o seu bebê após 3 a 4 semanas de vida; diferenciando cada choro para cada exigência dele.
Como havia citado quando falei das causas, o tratamento baseia-se naquele tripé :
- Dismotilidade
Parece que até o quarto mês de vida, o bebê; em especial o prematuro, possui um certo grau de dismotilidade intestinal.
O que isso quer dizer? Parece que ele não sabe conduzir bem seus gases e fezes num único sentido; sendo assim, eles ficam indo e voltando, de lá para cá, o que pode gerar tanto a cólica quanto um certo grau de refluxo gastroesofágico.
Sendo assim, uma coisa fácil e barata que pode ajudar nas cólicas são as massagens e o aquecimento da barriga do bebê.
E não, você não precisa ser massoterapeuta ou especialista em Shantala!!! Segue um vídeo e um link ensinando técnicas básicas de massagens:
https://www.johnsonsbaby.com.br/massagem-no-bebe/guia-de-massagem-recem-nascido
O aquecimento pode ser feito com compressas mornas, bolsas de água quente (existem algumas no mercado com cheirinho de ervas e que acalmam o bebê), banho morno ou ofurô.
- Gases e dificuldade em digerir o leite
O leite não é um alimento de fácil digestão, definitivamente. As fórmulas, ainda mais que o leite materno.
Além disso, o bebê parece apresentar um certo grau de intolerância ao leite, como se as enzimas necessárias para sua digestão ainda não estivessem totalmente formadas ou efetivas.
Desta forma, pode ocorrer a digestão incompleta/ fermentação do leite, gerando a formação de gases e desconforto.
Já existem formulações com enzimas que ajudam na digestão do leite e medicamentos para ajudar na eliminação dos gases, além das massagens explicadas acima.
- Microbiota Intestinal
O bebê nasce com o intestino sem nenhuma Flora ou Microbiota intestinal e ele começa a ser colonizado a partir do momento que nasce.
A nossa Flora ajuda na digestão do alimento e é indispensável para o bebê.
Sendo assim, muitos bebês apresentam cólica por não conseguirem digerir o leite completamente, parecido com o que foi explicado acima.
Já temos também medicações que ajudam na formação desta Microbiota e que podem ajudar a combater a cólica, reduzindo o tempo do choro – em especial, as crianças que recebem seio materno exclusivo.
5) E os chás e a Funcho-chicoria? Minha Vó usava e dizia que era muito bom!
Pois é, nem tudo que usávamos e fazíamos antes, nós usamos e fazemos hoje- que bom!!!
Como preconizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, a criança deve receber exclusivamente Leite Materno ou Fórmula Láctea específica até os 6 meses de vida.
Os chás podem fazer com que a criança diminua a quantidade de leite ingerido e assim, perca peso. Além do que, não devemos dar açúcares ou adoçantes para crianças, nesta idade.
A Funcho-chicoria (extrato de erva-doce e chicoria) foi retirada do mercado em 2012 pela ANVISA. E apesar de ser um medicamento fitoterápico, não existem doses seguras recomendadas em bula (nem pelo fabricante).
Ela vem em pó e muitos pais dissolvem-na no leite ou na água (o que pode resultar no mesmo problema do chá) e ofertam para as crianças.
Outros, molham a chupeta no pó e ofertam para os bebês, o que pode acarretar em microaspirações, pneumonias aspirativas e problemas respiratórios futuros.
Infelizmente, a empresa que produz a funcho-chicoria conseguiu vencer a liminar que retirou a medicação das prateleiras e hoje vemos ela sendo vendida, sem bula e sem nada, em todas as farmácias…
Eu formalmente CONTRA-INDICO o seu uso.
Por outro lado, temos outros extratos de plantas , que também contém a funcho-chicoria, que são aprovados pela FDA (órgão americano que fiscaliza alimentos e medicações) e que são vendidos pela internet. Contém a inconveniência do preço e da necessidade de importação.
6) E a alimentação da mãe, pode causar e/ou piorar a cólica?
A resposta é…. SIM!
De certa forma, parte daquilo que a mãe ingere pode passar ao leite materno e, assim, para o bebê.
Já temos alguns vilões conhecidos, que são basicamente os mesmos alimentos que causam o refluxo gastroesofágico no adulto: café, chá preto, refrigerantes, energéticos, embutidos e alimentos processados, frituras, molho de tomate, pimenta ou molhos condimentados, chocolate…
Dica básica? É só a mãe comer o mais naturalmente possível e sempre que for sair da dieta, não exagerar nas besteiras.
Ainda assim ,segue uma lista abaixo dos alimentos associados à colica:
7) O que fazer então?
Por fim, como sempre digo, toda doença que possui inúmeros tratamentos é porque nenhum deles é realmente efetivo.
Na minha vivência, observo que cada caso é um caso.
Que cada bebê responde de uma forma aos diversos tratamentos e medicações.
O que vale sempre a pena é os pais tentarem entender se aquele desconforto do bebê é realmente cólica. Se sim, qual parte do tripé deve ser o causador do desconforto? Gases, dismotilidade ou microbiota? E só então tentar tratá-lo.
Meu único e último alento é que a cólica VAI PASSAR! E o seu pediatra sempre estará ao lado para tentar ajudá-los nesta fase.
Hoje vou ficando por aqui.
Uma ótima semana a todos e até a próxima.
Dr. Vinícius F.Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista