Mamãe tenho Refluxo, estou DOENTE?!? – Parte 2

parte 2

Que bom que você continuou comigo e veio até aqui !

Se por acaso você abriu esta parte primeiro, sugiro que veja a Parte 1 antes  –  Link: https://clinicagoncalves.com/2017/12/07/mamae-tenho-refluxo-estou-doente-parte-1 .

Pois bem, mas para entender o tratamento da DRGE devemos entender porque ela ocorre.

Na verdade, não há apenas um fator relacionado à sua gênese…  O aumento da pressão no estômago ou no abdome, por uso de roupas apertadas ou faixas; o refluxo ácido; o esvaziamento lento do estômago; a posição mais verticalizada do estômago na criança e a redução da pressão da parte final do esôfago –  o tubinho que liga a boca ao estômago- por causas intrínsecas, como doenças neurológicas, ou extrínsecas, como o tabagismo passivo (inalação da fumaça do cigarro) podem causar a DRGE.

Sendo assim,  temos várias linhas de tratamento. E como eu SEMPRE digo, quando temos várias medicações para a mesma doença é porque nenhuma delas é realmente efetiva.

O que é mais importante salientar, é que na grande maioria dos casos as crianças tem RGE e não DRGE; sendo assim, a grande tarefa do Pediatra é tranquilizar os pais e mostrar que não está ocorrendo nenhum impacto no crescimento e no desenvolvimento da criança, que as crianças NORMALMENTE regurgitam e que grande parte delas são as chamadas “Regurgitadoras Felizes”.

Em todo caso, o passo básico para o Tratamento é:

  • Manter a criança em posição vertical de 20 a 30 minutos após a mamada
  • Elevar a cabeceira do berço em 30 graus- podendo-se lançar mão do travesseiro anti-refluxo
  • Posicionar a criança em decúbito dorsal ou seja DE BARRIGA PARA CIMA!!! Isto reduz a chance de “Morte Súbita do Lactente”.  Apesar das várias campanhas, é impressionante o número de pais que ainda deixam seus filhos recém-nascidos dormindo “de lado” ou de “barriga para baixo”, acreditando ser essa a melhor posição. A criança ainda não tem coordenação, no início da vida, para respirar pela boca, sendo assim qualquer coisa que obstrua o seu narizinho pode provocar asfixia, desde almofadas e bichinhos-de-pelúcia, que não devem ser deixados no berço; até mesmo uma pequena quantidade de leite que seu filho tenha regurgitado (desculpa o textão, mas esse assunto me intriga um pouco….)barriga
  • Fracionar o número de mamadas e evitar a sucção não nutritiva, se a criança estiver em Seio Materno Exclusivo
  • Tentar as Fórmulas AR, se estiver recebendo Fórmula Infantil Convencional

Apenas com essas medidas, mais de 60% das crianças apresentam melhora nos episódios de regurgitação.

No entanto, existem aqueles casos em que ainda há a suspeita de DRGE.  O que fazer?

Segundo as Sociedades Europeia (ESPGHAN) e Norte- Americana (NASPGHAN), deve-se aventar a possibilidade de Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV) nesses casos e realizar um teste com Fórmulas Hidrolisadas por duas a quatro semanas. Muito dos sintomas de DRGE, quanto os de APLV se confundem, dificultando o diagnóstico de ambas; além do que cerca de 40% das crianças podem apresentar as duas doenças concomitantemente- além da Cólica do Lactente…

Além disso, segundo estudos, cerca de 80% das crianças que iniciaram o uso da Fórmula Hidrolisada apresentaram melhora dos sintomas de DRGE.

Restando, por fim, uma pequena parcela das crianças que realmente vão precisar de tratamento medicamentoso.

Os fármacos mais usados são aqueles que aceleram o esvaziamento gástrico -Procinéticos, como a Domperidona- ou os que reduzem a acidez do estômago, como a Ranitidina e o Omeprazol.

Entretanto, todos podem produzir efeitos colaterais como cólicas, irritabilidade, sonolência, dor de cabeça, tonturas e movimentos de balançar a cabeça; o que pode prejudicar ainda mais no diagnóstico, tratamento e estabelecimento de causa-efeito-consequência.

Os anti-ácidos, em especial, devem ser usados em casos específicos, visto que a grande maioria dos refluxos em crianças é de origem básica e não ácida, como demonstrado nos exames de Impedanciometria Esofágica, o exame padrão-ouro para o diagnóstico de DRGE, atualmente.

Além do que, a Ranitidina possui um efeito de tolerância, perdendo sua ação ao longo de semanas, em caso de uso crônico.

E o Omeprazol apresentou um “boom” de prescrição, nos últimos anos, após a sua liberação para crianças com mais de um mês de vida pelo FDA (órgão que regulariza os medicamento nos EUA). No entanto, sabe-se que o seu uso crônico pode provocar polipose intestinal, chance aumentada para infecções respiratórias e/ou gastrointestinais, além de afetar na absorção do Ferro e da Vitamina B12. Seu uso deve ser criterioso, portanto.

Em último caso, pode-se recorrer para a correção cirúrgica associada à realização da válvula anti-refluxo. No entanto, este recurso terapêutico reserva-se para crianças com outras doenças associadas ou refratariedade do tratamento clínico.

Espero que tenha ajudado a solucionar parte da dúvida dos papais e das mamães.

O mais importante é sempre conversar com seu Pediatra e ele, após avaliar o caso específico do seu filho, irá recomendar o melhor tratamento!

Nem sempre o que funciona para uma criança, funcionará para a outra.

É importante também entender que, na grande maioria dos casos, a criança possui apenas RGE e os seus sintomas serão transitórios.

Por hoje é só- e UFA… quanta coisa!

Dúvidas e/ou  sugestões para os próximos temas? É só escrever no espaço abaixo!

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Nos encontramos em breve!

Dr. Vinícius Gonçalves– Pediatra e Neonatologista

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria- Regurgitação do lactente (Refluxo Gastroesofágico Fisiológico) e Doença do Refluxo Gastroesofágico em Pediatria- Dezembro de 2017.

2 comentários sobre “Mamãe tenho Refluxo, estou DOENTE?!? – Parte 2

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