Uma das dúvidas mais recorrentes, tanto no consultório, quanto nos Hospitais e UTIs em que trabalho é: ” Doutor, meu filho tem Refluxo . Já passei em vários médicos, já dei diversas medicações e nada que eu tenha feito ou dado para ele parece que melhore. O que eu faço?”.
A primeira coisa que gosto de destacar é que atualmente há uma abundância de diagnósticos de Doença do Refluxo Gastro-esofágico (DRGE), assim como o de Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV), e os motivos são inúmeros…
Acredito que atualmente haja mesmo mais informação , o que implica no aumento do número de diagnósticos, além da melhora na assistência à Saúde, o que aumentou a sobrevida de crianças que são mais sujeitas à DRGE, como os prematuros; mas não posso deixar de destacar a imensa pressão da indústria farmacêutica e, porque não, dos próprios pais em diagnosticar e iniciar o tratamento farmacológico em seus filhos.
Antes de tudo, vale aqui diferenciar o Refluxo Fisiológico ou Refluxo Gastro-Esofágico (RGE) da Doença do Refluxo Gastro-Esofágico (DRGE).
O Refluxo Fisiológico ou Refluxo Gastro-Esofágico tem as seguintes características:
- Ocorre em crianças e adultos saudáveis- ou seja, é NORMAL
- Afeta 60% do Bebês
- Tem um pico de ocorrência com 4 meses de idade
- Resolve-se em até 95% dos casos com 1 ano de idade
- NÃO AFETA O GANHO DE PESO DA CRIANÇA
- NÃO afeta outras partes do corpo, como a DRGE
- NÃO afeta o sono ou causa irritabilidade
Já a Doença do Refluxo Gastro- Esofágico:
- Geralmente acomete crianças com problemas neurológicos, com doenças respiratórias crônicas e/ou malformações congênitas, como a hérnia diafragmática, prematuros, obesos
- Cursa com BAIXO ganho de peso (importante marcador), dificuldade em aceitar os alimentos, vômitos intensos, irritabilidade, alteração da posição do pescoço da criança
- Além de poder causar crises de apneia e/ou cianose, chiado/asma/tosse crônica, rouquidão, infecções respiratórias de repetição, erosão do esmalte dos dentes
Mais importante do que a gama de sintomas que a DRGE pode causar, é o enorme número de diagnósticos diferenciais que podemos ter, como mostra o quadro abaixo:
Sendo assim, só um profissional na área poderá dizer com certeza se seu filho tem RGE ou DRGE.
No entanto, o mais importante frisar aqui é que o diagnóstico de RGE ou DRGE é ESTRITAMENTE CLÍNICO. Ou seja, não demanda de nenhum exame complementar, ainda mais quando estamos falando de crianças menores de 1 ano de idade.
Para dizer que uma criança tem apenas RGE, ela deve preencher obrigatoriamente dois critérios, segundo o ROMA IV (um protocolo sobre as doenças do trato gastrointestinal atualizado em 2016 por especialistas na área) :
- Apresentar dois ou mais episódios de regurgitação em pelo menos 3 semanas
- Ausência dos sinais citados acima, em negrito, e que caracterizam a DRGE
E, assim, elas ganham a alcunha de “Regurgitadores felizes” ou “happy “spiter” (termo em inglês).
“Tá certo, Doutor! Entendi tudo isso até agora. Mas como posso tratar o meu pequeno?”
Como o assunto é vasto e se estendeu um pouco, irei continuá-lo na Parte 2 :
https://clinicagoncalves.com/2017/12/07/mamae-tenho-refluxo-estou-doente-parte-2/
Te vejo lá!
Dr. Vinícius Gonçalves- Pediatra e Neonatologista
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria- Regurgitação do lactente (Refluxo Gastroesofágico Fisiológico) e Doença do Refluxo Gastroesofágico em Pediatria- Dezembro de 2017.
2 comentários sobre “Mamãe tenho Refluxo, estou DOENTE ?!?- Parte 1”