Como soltar o intestino do meu filho? (parte 1)

Olá! Tudo bem com vocês? Eu espero que sim.

Para compensar os meses sem publicações, nesse mês venho com tudo.

E, dessa vez, venho falar de intestino preso ou constipação intestinal.

Você sabia que essa queixa corresponde a 3% dos motivos das consulta pediátricas e até 25% das consultas com Gastroenterologista Pediátrico?

Bem comum, né?

Então vamos juntos conhecer um pouco mais sobre esse tema?

1) A constipação intestinal (intestino preso) é causada por uma doença?

A constipação é um sintoma, na maioria das vezes.

Até 95% delas é de causa funcional, ou seja, não costuma ser uma complicação de uma doença de base.

2) Como definir que uma criança tem intestino preso?

Depende da idade e de cada criança. O número de evacuações é bem variável e diminui à medida que a criança cresce.

Os recém-nascidos costumam evacuar várias vezes ao dia, geralmente, mais de quatro vezes ao dia.

Mas, um recém-nascido pode ficar até sete (isso mesmo, 7 dias) sem evacuar e isso pode ser completamente normal.

ATENÇÃO!!! MUITA ATENÇÃO!!!

Já ouviram falar de Disquesia?

A Disquesia é um distúrbio funcional que pode ocorrer em bebês até os 9 meses de idade, segundo os critérios ROMA IV, é uma espécie de incoordenação da capacidade de fazer força (prensa abdominal) e do relaxamento do esfíncter anal, e que pode gerar dor/incômodo durante o ato de evacuar ou soltar gases. MAS QUE NÃO CARECE DE TRATAMENTO MEDICAMENTOSO!!!

Então, se o seu bebê ficar alguns dias sem fazer cocô, sem incômodo excessivo, isso pode ser normal. Cuidado com os estímulos retais e uso recorrente de supositórios.

E não posso deixar de citar a pseudo-constipação intestinal que pode ocorrer em bebês alimentados com leite materno exclusivo. Uma entidade que, como o nome indica, não se configura como intestino preso de verdade e que consiste apenas no aumento do intervalo de evacuação, embora com fezes amolecidas e sem esforço.

“… um recém-nascido pode ficar até sete (isso mesmo, 7 dias) sem evacuar e isso pode ser completamente normal.”

Certo! Deixando tudo isso de lado, esses são os critérios para Constipação (Intestino Preso):

3) Como é feito o Diagnóstico? Os exames são necessários?

Geralmente, não.

Lembram-se? A Constipação em 95% das vezes é funcional, não é causada por doença alguma.

Então, é possível fazer o diagnóstico apenas com a História Clínica: número de evacuações, aspecto das fezes, manobras para facilitação, esforço, história de dor, sangramento retal ou hesitação para evacuar.

A idade de início também é outro fator que chama atenção.

Crianças que demoram ou não evacuam nas primeiras 48 horas de vida. Bem como, crianças com outros sintomas além do intestino preso, como vômitos com bile, febre, baixo ganho de peso e altura, alteração no exame neurológico e, principalmente, com alterações na coluna lombo-sacra devem ser vistas com atenção.

Nesses casos, a coleta de exames de sangue para o diagnóstico de doenças que também cursem com intestino preso pode ser necessário.

Já os exames de imagem podem ser dispensáveis . A radiografia de abdômen pode ser utilizada para confirmar a presença de fezes na ampola retal, embora possa ser facilmente identificada na palpação abdominal.

4) Qual o tratamento?

O tratamento consiste em alguns pilares que podem parecer “básicos”, mas que merecem destaque:

  • Hidratação
  • Consumo de fibras
  • Atividade física
  • Uso de laxativos
  • Treinamento do uso do sanitário

Sobre o uso de Laxativos, o Polietilenoglicol (PEG) se mostrou o mais efetivo no tratamento de constipação instestinal. A sua dose depende do peso/idade da crianças, bem como do momento do tratamento.

Doses mais altas podem ser utilizadas para desimpactação retal, alternativamente lavagem ou uso de supositórios.

As doses de manutenção podem e devem ser mantidas por meses, sem prejuízo algum à criança. E, com ajuda de um profissional, deve-se realizar o desmame gradual da medicação.

Importante reduzir as expectativas da família e sempre deixar claro que pode haver recidivas ao longo do processo, o que é comum.

Outras medicações como Lactulose, podem ser uma opção secundária. Bem como óleo mineral e leite de magnésia, em casos ESPECÍFICOS e com orientação médica.

O treinamento de toalete ou do uso do vaso sanitário consiste em levar a criança regularmente ao banheiro, mesmo que ela diga que não quer ir, criando uma rotina.

Há um reflexo chamado de ileocólico, que é desencadeado após comermos e que ajuda na peristalse (movimentação do intestino). Portanto, criar o hábito de levá-la ao banheiro logo após as refeições pode ser muito benéfico.

Insistir um pouco, sem brigar, por 5-10 minutos, utilizar apoio para os pés e reforços positivos em caso de tentativas bem sucedidas são o melhor caminho sempre!

E é isso!!!

Espero que tenha esclarecido mais essa.

Vejo vocês na próx….


“Hey, hey! Espera!!! Você não falou da água e das fibras.”


Sim. Parece fácil e óbvio, né? Mas não!

E esse é o pilar fundamental do tratamento de manutenção para o intestino preso.

Então…

Vejo vocês na próxima, de fato. Espero vocês!

Dr Vinícius F. Z. Gonçalves- Pediatra e Neonatologista

CLÍNICA GONÇALVES– Deixe a nossa família cuidar da sua.

Fontes:

  1. MANUAL DE ASPECTOS NUTRICIONAIS EM SITUAÇÕES ESPECIAIS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA- Sociedade Brasileira de Pediatria: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/24504e-Man_AspecNutric_em_Sit_Especiais_Inf_e_adl.pdf
  2. Constipação intestinal- Departamento Científico de Gastroenterologia (gestão 2022-2024)- 04 de Abril de 2024- Sociedade Brasileira de Pediatria: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/24448f-GPO-Constipacao_intestinal.pdf
  3. Disquesia –Departamento Científico de Aleitamento Materno – Sociedade Brasileira de Pediatria: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/nutricao/disquesia/